23 de abril de 2010

ogã toca pra ogum



No dia oito de janeiro de 2010, escrevi obviamente sobre vida como introdução para apresentar o que já é de conhecimento, porém não tanto como desejo, o trecho da música de Jorge Ben homenageando bonitamente a oração de São Jorge. Noutro dia recente, andando pelo mercado resolvi comprar um ‘pingente’ de São Jorge pra proteger grandes amigos de ideais compartidos. Por que? Porque São Jorge é meu padroeiro. E hoje é dia dele.

Tomando como rumo, a atividade literária exercia pelo escritor Murilo Rubião (Carmo de Minas, 1° de junho de 1916 - Belo Horizonte, 16 setembro de 1991) de reescrever seu TEXTO, eis que:

 

Neste texto, retomo os nomes~pelos diálogos intensos nos quartos~pelo ideal do desejo barthesiano~hoje deixo o pedaço de uma homenagem~como sempre dissemos ser a poesia a maior das proteções~a que nos lança mais rumo ao longe~para que saibamos não querer saber donde veio~mas sim POR ONDE vamos:


Eu andarei vestido e armado, com as armas de São Jorge
Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem
tendo mãos não me peguem,
tendo olhos não me exerguem
e nem pensamentos eles possam ter para me fazerem mal.


Armas de fogo o meu corpo não o alcançarão,
facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar,
cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem.

(pois eu estou vestido com as roupas e as armas de jorge~jorge é da capadócia).

 

E a quem se interessar possa: E preciso dizer que se interesse: calmamente.

 

22 de abril de 2010

roube este filme I e II


Os filmes “Roube Este Filme I” e “Roube Este Filme II”, dois capítulos-documentários sobre a complexa relação entre o compartilhamento de arquivos via web, a dita propriedade destes arquivos, e como a internet insere novas possibilidades que bagunçam tudo aquilo que pensávamos estar estruturado sobre direitos de autor, pirataria digital e formas de distribuição e circulação da cultura na sociedade. Ambos filmes são dirigidos pelo inglês Jamie King e produzidos pela misteriosa The League of Noble Peers, um grupo de produtores que pouco mais se sabe além do fato deles serem alemães e ingleses e terem produzidos as duas partes de “Roube Este Filme”.

[A liga parece ter um modo de atuação, digamos assim, parecido ao do coletivo italiano Wu Ming, especialmente no caso do autor-fantasma (ou coletivo) Luther Blisset, detalhado brilhantemente no livro Guerrilha Psíquica, da ótima coleção Baderna da Editora ConradSaca a fala do grupo, presente no Roube Este Filme II: "People always ask us, who are The League of Noble Peers? And we tell them: You are, I am, even your bank manager is... insert yourself here, because we all produce information now, we all reproduce information, we all distribute it...]

O primeiro Roube Este Filme (no original, Steal this film), lançado em 2006 via arquivo torrent na própria página oficial do documentário, tem como ponto central a forma como entidades de lobby, como a MPAA (Motion Picture of America, a associação dos grandes estúdios de cinema dos Estados Unidos), trabalharam sua influência sobre as autoridades na Suécia para causar um ataque ao Pirate Bay em maio de 2006, quando a empresa onde ficavam hospedados os servidores do site (o host) foi invadida por policiais e teve os seus computadores apreendidos. Para contar essa história em 32 minutos, os produtores entrevistaram desde os responsáveis pelo Pirate Bay até produtores e dirigentes da indústria do entretenimento, passando ainda por figurões de Hollywood (como o ator Richard Dreyfuss, autor de uma das falas mais lúcidas sobre a polêmica toda), membros do Partido Pirata Sueco e usuários de tecnologias de compartilhamento de arquivos.

Roube Este Filme II, lançado oficialmente em novembro de 2007 na conferência “The Oil of the 21st Century – Perspectives on Intellectual Property“, em Berlim, Alemanha,  além de ser um poquito mais longo (44 minutos) que o primeiro, vai mais além na discussão do contexto econômico/tecnológico/cultural que está diante das chamadas “copyrights wars”, as batalhas entre o livre compartilhamento de bens culturais e o repressão à estas práticas através da tentativa de endurecimento das leis de direitos autorais. Esta segunda parte traça também um paralelo entre o impacto da imprensa e o da Internet em termos de tornar a informação acessível para além de um grupo privilegiado de “controladores” da informação. O argumento central do filme é de que a natureza descentralizada da Internet faz com que a aplicação dos direitos de autor hoje seja praticamente impossível – pelo menos se considerar estes direitos tais como eles foram estabelecidos primeiramente no século XVI na Europa e como ainda hoje se configuram.
Segundo matéria do jornal britânico The Guardian, ambas partes de “Steal This Film” se inserem no coração de um estilo de documentário-manifesto, onde os cineastas praticam, em seu próprio filme, aquilo que defendem perante à sociedade. É por conta dessa estratégia que as duas partes estão disponíveis nos mais variados formatos para download na página oficial dos filmes, bem como as legendas em mais de 10 línguas, todas produzidas e enviadas espontaneamente pelo público mundo afora.

Dentre os diversos festivais que os dois documentários foram exibidos, destacam-se o Sheffield International Documentary Film 2008, na Inglaterra,Tampere Film Festiva 2008, na Finlândia, South By Southwest festival 2008, em Austin, nos Estados Unidos (este, um dos principais festivais de música e cultura alternativa do mundo) além de uma rumorosa exibição no International Documentary Film Festival em Amsterdã, Holanda, uma das raras ocasiões onde o diretor Jamie King falou sobre o filme e a The League of Noble Peers. Ambos os documentários também já foram exibidos em diversos canais estrangeiros, como o History Channel, Canal + Poland, TV 4 Sweden e o Noga, de Isreal.


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Questões universais na arquitetura contemporânea - ou, Estamos todos no mesmo buraco negro.

Sempre enxerguei a necessidade de se produzir uma arquitetura que fosse genuínamente brasileira.
Que não fosse só uma copia sem justificativa, do que é feito na arquitetura contemporanea mundial.
Hoje assisti a dois vídeos que dizem exatamente desta necessidade.
Necessidade de não estarmos desconectados do que acontece no mundo, mas sim, ligados ao mundo e ao nosso territorio, ao nosso povo, ao que deveria ser produzido no nosso país.

Vou passar para vocês estes dois vídeos:

O primeiro é do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Grande arquiteto brasileiro! Faz parte da "Escola Paulista" de arquitetura. Tem grandiosas obras no Brasil e no mundo, dentre elas, a reforma da Pinacoteca em São Paulo. Ganhou em 2006 o Premio Pritzker, o mais importante da arquitetura mundial.
Escutem o que ele diz com atenção. Neste vídeo ele fala principalmente de cultura, de vida, da arquitetura no meio disso tudo.






O segundo é de um jovem arquiteto chinês falando sobre o mesmo problema que vivemos no brasil: A arquitetura contemporanea sendo copiada sem criterio algum. E a necessidade de ser afirmada uma identidade arquitetônica do país. Ele fala da China mas não precisa ser dotado de muito senso crítico para entender que os problemas que ele identifica são os mesmos que podemos identificar aqui no Brasil.




Reflitam!

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Gabriela de Matos.

19 de abril de 2010

porque a estética tem fome

coloquei os dois cara-a-cara, um em cima do outro.
por vezes me esqueço do que semiologicamente aprendi a ver distinto e , assim, aproximo arbitrariamente dois corpos que estruturalmente não se encontram, com razão.
talvez seja pelo fato do existencialismo ter sido fundado, como se não fosse intrínseco aos espíritos desassossegados com tudo o que é condição.


aquele livro foi meu de uma forma que nem mesmo eu, ou mamãe podemos localizar (e mamãe pontua tudo).
a prosa de pessoa é o livro dos meus dias e ouso dizer que está bem perto do que seria pra mim uma visão.


então colei artaud naquela peça infâme que quero apresentar pra os que nos lêem durante as horas que mari disse que miranda usou para comer tudo o que podia de nosso fluxo.
ainda não arrumei um jeito de fazer isso, mas virá, bem sei que virá.


artaud disse, em carta à barrault, que entende que ele possa enxergar cumplicidade de propostas desses dois teatros que são vida, mas, ainda assim, não estão juntos. 
grotowski é pobre para fazer teatro e é um homem que atribui sua ambição à outras nuances. e seu teatro é grandioso até nas matizes.
eu, que corôo as cores, entendo sua escolha e até acho que, no entanto, também poderia assim o fazer.


eu, escrevo sobre o teatro que não faço e talvez não faça sentido pra os que conheço como atores e ainda talvez não tenha muito sentido pra alguém. isso será sempre um enigma e enigmas são mistérios que preciso saber que existem.
ainda assim, digo: que sou um homem de teatro.
assumo porque queremos encantar para construir. esse é um terreno muitas vezes perigoso, mas os situcionistas sobreviveram.
sou maçante e obstinado porque tenho a impressão de ter alguma coisa a dizer: aquilo que sempre considerei uma espécie de impermeabilidade do mundo cênico a tudo que não pertence estritamente a ele, a quase inutilidade da palavra que não é mais o veículo, mas o ponto de sutura do pensamento, a futilidade de nossas preocupações sentimentais ou psicológicas, tudo isso em profundidade e em perspectiva, sejam construções absolutamente novas do espírito; tudo isso deve ser preenchido, satisfeito, representado e levado adiante pelas surpreendentes realizações.
pois:
se o teatro duplica a vida, a vida duplica o verdadeiro teatro (e isso não tem nada a ver com as idéias de oscar wilde sobre a arte).
isso corresponde à todos os duplos do teatro: a metafísica, a peste, a crueldade, o reservatório de energias que constituem os mitos que não são mais encarnados pelo homem, são encarnados pelo teatro. 
o duplo é o agente mágico do qual o teatro é a transfiguração.




a arte permanece colônia.


nessa colônia vivem a esterilidade e a histeria- glauber me contou quando disse passar fome.
eu sinto fome, e artaud saberia, portanto me cede o que sabe não mais pertencê-lo_ a fome. 
eu sinto fome, rio e também posso chorar.


vomito porque não gosto de circo- van gogh na sala de jantar não pode ser digestivo.


a mais nobre manifestação cultural dessa fome é a violência. por isso, a música em pernambuco chama resistência e braveza.
a única estética revolucionária advém dessa violência, que caoticamente pode lhe parecer primitiva.
mas, atende aos símbolos todos que somos:


a palavra é o grito dessa existência.
e, a arte que se realiza na política da fome sofre as fraquezas de tal existência.
no entanto, sabemos que ela virá.


manda descer pra ver- filhos de gandhi!

18 de abril de 2010

recebi visita em minha casa hoje

Escrever por fragmentos: os fragmentos são então pedras sobre o contorno do círculo: espalho-me à roda: todo o meu pequeno universo em migalhas; no centro, o quê?


Sim. Yoko Ono escreveu sim e fez da palavra o círculo obrigatório em que tudo deveria esbarrar em/ele antes de 
ser processado. Sua cognição se pronunciava. Já eu, 
Eu vi os expontes da minha geração destruídos pela histeria, sentados na sobrenatural escuridão
de seus pomposos apartamentos frente ao mar em Boa Viajy.




Como  estive pensando em você esta noite, Walt Whitman, enquanto caminhava pelas ruas sob as arvores, com dor de cabeça, autoconsciente, olhando a lua cheia.

No meu cansaço faminto, fazendo o Shopping das imagens, entrei no supermercado  das frutas de néon       sonhando com tuas enumerações 





sim, Caio. Aparentemente tudo é duro e fere. Mas só quero deixar claro que também sou sobrevivente.
Me afoguei em volta dos livros por não os ter podido comer, e sobrevivi. Por que? Contei como Yoko
em Peça Numeral I me pediu. Contei todas as palavras de todos os livros em vez de lê-las.


III

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.





IV

Se eu disser que vi um pássaro
, deverias crer?



E cri, porque me conduzi para exercer uma longa jornada 
Eu, com meus pés em pura carne, a te levar inúmeros pássaros.


VI

O que é a carne? O que é esse Isso
Que recobre o osso



:


Vós que não estais na carne, que sabeis em que ponto de sua trajetória carnal, de seu vai e vem insensato, a alma encontra o verbo absoluto, a palavra nova, a terra interior. Vós que sabeis como alguém dá voltas no pensamento e como o espirito pode salvar-se de si mesmo. Vós que sois interiores de vós mesmos, que já não tendes um espirito ao nível da carne: aqui há mãos que não se limitam a tomar, cérebros que vêem alem de um bosque de tetos, de um florescer de fachadas, de um povo de rodas, de uma atividade de fogo e de mármores. Ainda que avance esse povo do ferro, ainda que avancem as palavras escritas com a velocidade da luz, ainda que avancem os sexos um até o outro com a violência de um canhonaço, o que haverá mudado nas rotas da alma, o que nos espasmos do coração, na insatisfação do espirito?






Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.

E então eu vos pergunto: Por que? E ele me responde.

O coração, se pudesse pensar, pararia.