19 de dezembro de 2009

Estética Relacional

No post de hoje gostaria de fazer uma breve introdução a um livro de Nicolas Bourriaud que acredito ser bastante importante para a Arte Contemporânea*.

*do nosso tio Aurélio – Contemporâneo: adjetivo.
1. Que é do mesmo tempo, que vive na mesma época (particularmente a época que vivemos).

É possível compreender a produção artística sem nos basearmos na arte dos anos 1960?
“Com as relações humanas estabelecidas dentro de espaços de controle, espaços mercantis que acabam por decompor o espaço social, a prática artística surge como um campo fértil de experimentações sociais. Bourriaud investiga a sensibilidade coletiva em que se inscrevem essas novas formas de arte. E detém-se na vertente convivial e interativa dessa revolução, procurando saber por que os artistas passaram a produzir modelos de socialidade e a se situar dentro da esfera inter-humana”.
da orelha do livro

Quem quiser saber mais aí vai a dica: Estética Relacional de Nicolas Bourriaud.
BOURRIAUD, Nicolas. Estética Relacional. Tradução de Denise Bottmann. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

PS: Nos próximos posts vou apresentar alguns artistas que aprecio muito e que gostaria de compartilhar com vocês. Apesar de não fugir completamente do assunto voltarei para discussão sobre Estética Relacional e sobre a tal Arte Contemporânea.

JFBrittes

18 de dezembro de 2009

amanhã

ainda da coletânea EIS-ME AQUI, BRUTO!, um texto (palavra poema?) do certeiro Aristides Klafke
que me encantou quando o encontrei, ainda pequena, perdido na biblioteca da sala de meu pai, e
pelo qual hoje manifesto muito carinho.

AMANHÃ (para beta hermano)

amanhã iremos novamente à casa de alguns amigos
que não saem mais de casa e são paranóicos
falaremos de arte de comida e de jogo de damas
provavelmente não comentaremos os exageros
dos animais invertebrados
nem ligaremos para os tímpanos arrebentados
de um prisioneiro sem nome
esqueceremos pêndulos guilhotinas e garrotes
e não justificaremos nossas ausências.

apenas tragaremos álcool e fumo na noite
dos facínoras
depois suportaremos as sensações provocadas
pelas estacas e clavículas fincadas
nas calçadas e como porcos incólumes afirmaremos
nossas esperanças ao atravessarmos
ruas repletas de matilhas e ciladas.

amanhã mataremos nossos filhos de susto.

(mariana de matos)

o conselho

“ a verdadeira poesia se encontra fora das leis” georges bataille

encontrei esta citação num livro de poemas de Roberto Piva/
num dia nublado que me surpreendia com chuvas inesperadamente torrenciais.
em posse de um estado crítico de muito leitora, pensei promissoramente abandonar
a princípio os poetas empoeirados, os escritores que se vivo estivessem, teriam dificuldade em erguer a cabeça (de tantos prêmios no pescoço ?(, e me dedicar (com a óbvia delicadeza do termo) aos que não tem prêmios nem taças, aos que ocupam suas vidas com a literatura/poesia, e não tem tempo para a luxuosa matéria de excluir da arte, a vida;;; e com agonia e honroso desassossego, enquanto existe vitalidade literária, permanecem em pé sob a fundação da escritura.

>>>> transcrevo para vocês o conselho de Aristides Klafke, poeta mato-grossense da década de 50.


Conselho:


você deve devolver o sorriso
ao poder
sem novidade deve passar pelas pessoas
como se o mundo não existisse,
deve passar apenas, alheio.
ficar viúvo do sentimento
desertar em plena luta
armazenar o sexo
você deve ser absurdo, amigo
silencioso
você deve inaugurar-se
no caos.

e passar bem!




(mariana de matos)


17 de dezembro de 2009

venho lhes apresentar sem ponto sem vírgula numa quase regurgitação sem ensaio
um pequeno vídeo onde glauber rocha provoca uma reflexão crítica do cinema nacional do sistema econômico dos brasileiristas estrangeiros
revolucionário arauto desmistificante defensor de nossa nação e por que não começar por ele?




Paula Motta

16 de dezembro de 2009

Preservação -> Conservação -> Novo Uso

Houve uma época em que os edifícios antigos eram modificados para tornar suas aparências modernas encobrindo o fato de que eles eram realmente velhos.
Com exceção das antiguidades reconhecidas por especialistas, o restante era tratado como algo usado, de segunda mão e fora de moda.
Estas modificações hoje são mínimas, levando em consideração que o edifício não pode perder suas características, e atentando cada vez mais ao fato de que estes edifícios possuem importância econômica, cenográfica ou sentimental.
Considerar a reabilitação do edifício ao invés da demolição ou abandono, é favorável a cidade, e é a maneira mais inteligente de manter o edifício conservado.
No Brasil hoje, temos vários bons exemplos de intervenções feitas em patrimônios históricos que são bem sucedidas.
Aqui em Belo Horizonte teremos se não a maior, a mais concentrada, intervenção em vários patrimônios históricos de uma só vez na cidade. É a construção do Circuito Cultural da Praça da liberdade.
Convido vocês a darem uma olhada nos projetos das antigas secretarias que estão neste site http://www.circuitoculturalliberdade.mg.gov.br/projeto-conheca.php




Praça da Liberdade, Belo Horizonte, MG




Imagem retirada do site: http://www.anarkaos.wordpress.com/


                                                                                                                             Gabriela de Matos.

15 de dezembro de 2009

Natal_Dicas_Potencialidades

Flávia Virgínia




O natal pode ser sim uma grande celebração do kitsh e a afirmação de que muitos corações resolvem trabalhar somente nessa época. Críticas clichês a parte, aprendemos com um certo amigo bigodudo ( piada interna, ou você tem um bigode em mente?) que devemos extrair a potência das coisas banais. Pensando nisso, ou apenas aproveitando a oportunidade que a data sugere, coloco abaixo uma dica de exposição de arte + evento de moda com expositores que provocam a famosa possibilidade de transformar e provocar a diferença do corpo sem precisar abandonar aquilo que se é, o famoso devir, segundo outro amigo deleuze. Então segue abaixo o flyer do evento que ocorrerá na mini-galeria de arte:




Informações acesse o site da mini galeria
 ou o blog da marca Virginia Lotus .


T-POST / T-SHIRT

Falar, pensar, discursar moda como segunda pele. Uma vez cientes dessa relação, não podemos aqui pesar literalmente as palavras articulando idéias herméticas e difíceis de compreender. Por isso, nesse artigo pós-introdução continuo ressaltando os verdadeiros valores relacionais desse espaço da moda como um aglutinador de idéias e comunicação.


Falando em comunicação alguém ouviu falar da primeira revista vestível do mundo?



Pois é, a T-Post se trata de uma marca de camisetas que contém em si informações e imagens ilustradas desenvolvidas por artistas. A configuração da peça consta de reportagens no interior e a ilustração na parte externa da camiseta. Os assinantes da revista recebem uma camiseta a cada 6 semanas e o jornal em tecido custa 19 euros por folha, ou melhor, camiseta. Segundo os idealizadores, a edição consiste como em outra revista qualquer, no entanto somente é escrita uma matéria por mês contendo, preferencialmente histórias que produzam pensamentos e ações. O interessante da proposição do T-post é todo o aspecto relacional que envolve o uso de uma camiseta. Além da produção em si que acarretam conceitos da transposição de linguagens, ou seja, as trocas de suporte para multiplicar sentidos e produzir diálogos ainda permitem o uso da proliferação de idéias. Uma vez trajando uma determinada camiseta, com um layout interessante já está aí uma forma de se comunicar com o mundo e ainda dialogar com aqueles que interajam com a camiseta fazendo algum comentário, por exemplo.



 
Imagem retirada do site http://www.t-post.se







A camiseta acima foi a última reportagem lançada.  O design é assinado pela artista Jessica Eriksson e a reportagem discorre sobre uma antiga cidade no interior da China no qual todas as cidadãs são mulheres 
e lésbicas. Outras reportagens, camisetas e mais informações estão no site da marca.








14 de dezembro de 2009

TEATRO: um espaço aberto


POR UM TEATRO EXPANSIVO
por um teatro que destrua padrões
que explore mais do que palcos cedidos
que resolva tomar espaço
por um teatro invasivo



por um teatro que dê vida às coisas
que saiba dar importância aos gestos, ao corpo, ao movimento
por um teatro onde a palavra não seja suprema
e única forma de comunicar


por um teatro que não carregue moralidades
que vislumbre chegar ao outro pela fortaleza de seu próprio ato


por um teatro que precisa acontecer
e não diz respeito a entretenimento


por um teatro que se preocupa com a fome
com o desejo cultural que ultrapassa a fome


por um teatro que se confunda com a vida
e que transforme a vida


por um teatro que atua pela necessidade e pelo prazer
e todos possam, portanto, atuar


por um teatro que derrube o mito teatral e seu vocabulário
e retorne aos sentidos- à vida!




(ana pedrosa



13 de dezembro de 2009

introdução: PARCEIROS

olá! domingo será dia, aqui no FLUXO, de postarmos textos dos nossos parceiros.
esses textos não virão de temáticas pré-postas, mas de uma iniciativa que se faz para haver agregação, e, através das contaminações que daí podem vir, crescimento para o pensamento/ação.


hoje, nosso parceiro Rogério Felipe inaugura esse espaço, que tem a dura e desejosa missão de gerar seus frutos.
Saboreiem!...

Não fosse Matisse, “o rei das feras”, “o pintor de paredes”, quem haveria de trazer as linhas de força para a pintura?
Eu sei, bem sei, e você também sabe muito bem, e os acadêmicos e eruditos de plantão sabem melhor ainda do que todos nós juntos, que Matisse não foi o único e nem o será: a trazer as linhas de força para a pintura... e a extrair dessas (das linhas de força e da pintura) as mais diversas sensações. Mas, o que está em jogo aqui não é o saber, e sim o sentir. Não um apelo exagerado ao racional, mas ao calor arrebatador que advém das vísceras, atravessando o corpo, quando nos colocamos em contato com as cores de Matisse e seus blocos de sensações: conjunto de perceptos e de afectos.

  • O que você sente num encontro com Matisse e as forças que este atiça?

Aliás, não atice Matisse, a não ser que você queira acabar atiçado. Um corpo pode ser bem definido pela sua potência de atiçar e de ser atiçado, ou melhor, seguindo Spinoza, pela sua potência de afectar e de ser afectado.

Falo de forças aqui no sentido nietzschiano (e não do “falo das forças”). E Matisse, leitor de Nietzsche, soube “encontrar forças”, “produzir forças”, “trabalhar com as forças”, rompendo as sutis fronteiras entre cores e linhas. Colocando as cores e as linhas em um puro agenciamento, de tal sorte que o início de uma se dava no fim da outra e vice-versa, no entrelaçar de distâncias mínimas, entre linhas e cores e entre estas suas forças. Dando ênfase às forças em detrimento às formas, pois para Matisse as formas vinham depois, seriam secundárias, ele nos envolve na dança, em noites árabes, no interior vermelho, na nudez azul... por meio de pinturas, serigrafias, esculturas, desenhos com tesoura. São muitos os modos de expressão experimentados pelo artista a nos convidar ao encontro com suas cores e forças. E aqui me encanta a sua atitude, ao “pintar paredes”, rompendo formatos, forçando as formas na criação de form-atos.

Matisse experimentou as sensações vigorosas de sair da moldura, do modelo, e assim rachar as coisas, extra-va(z)ar as texturas e desfrutar de linhas de fuga criadoras de um sem-número de possíveis. O que é possível num encontro com Matisse não cabe numa parede. E sem um possível não há encontro, você dá com a cara na parede sem cor, nada além, nada aquém.

Rogério Felipe