8 de outubro de 2010

poética da tradução dois: poética do tradutor

poética da tradução dois: poética do tradutor

descuido não (concentração) 
                    lembrar da caretice que você não gosta. 
                    reaproveitar o casaquinho de banton. 
                    quando você mal pensa que é novidade, não é. 
                    Existe uma medida entre o descuido e a 
                    premeditação — trata-se do cuidado (floating 
                    attention). Daí escapam maps of England birds, pessoas seguindo numa certa direção, 
                    bichos que vão virando gente, discretamente eróticos, desejando 
                    mancha transparente e diluída de aquarela cor de rosa, 
                    see? 
                    Medida exata entre o acaso e a estrutura. 
                    Aprender fazendo, baby. 
                    começar pelas médias (daí para pequenas, depois para grandes)

xxx

18.8.80
I am going to pass around in a minute some lovely, glossy-blue
picture postcards.
Num minuto vou passar para vocês vários cartões postais belos e bri-
lhantes.
Esta é a mala de couro que contém a famosa coleção.
Reparem nas minhas mãos, vazias.
Meus bolsos também estão vazios.
Meu chapéu também está vazio. Vejam. Minhas mangas.
Viro de costas, dou uma volta inteira.
Como todos podem ver, não há nenhum truque, nenhum alçapão
escondido, nem jogos de luz enganadores.
A mala repousa nesta cadeira aqui.
Abro a mala com esta chave mestra em cerimônias
do tipo, se me permitem a brincadeira.
A primeira coisa que encontramos na mala, por cima de tudo,
é — adivinhem — um par de luvas.
Ei-las.
Pelica.
Coisa fina.
Visto as luvas — mão esquerda... mão direita... corte... perfeito.
Isso me lembra...
Um jovem artista perdido na elegante Berlim da Belle
Époque, sozinho, em vão procurando por
prazer. Passa um grupo ruidoso
de patinadores, e uma mulher de branco deixa cair
a sua luva, uma luva com seis botões, branca, longa, perfumada.
O jovem corre, apanha
a luva, mas reluta se deve aceitar ou não o desafio.
Afinal decide ignorá-lo, guarda a luva no bolso e volta caminhando para o seu hotel por ruas
mal iluminadas.
Mas assim me desvio do meu propósito desta noite.

trechos de ana cristina césar)))

5 de outubro de 2010

teatro_ resistência_ josé celso


O Teatro Oficina foi criado em 1958, pautado numa politização da construção estética e a partir do desejo de se inaugurar no Brasil um teatro que entendesse e se fizesse entender de uma nova forma: um teatro mais difundido socialmente; livre de mitos separatistas e elitistas que o ordenasse; e que trouxesse a experiência cênica internacional. O Teatro Oficina foi um marco na concepção teatral brasileira, uma subversão de um teatro imposto e uma abertura pra uma verdadeira forma de ação social.

Um de seus fundadores foi o dramaturgo José Celso_ personalidade emblemática na formação do Oficina. Com construção sistematicamente coletiva, o Teatro Oficina, desde a década de 60 construiu-se um grupo de atividades fundidas: teatro, cinema e música; em cursos, seminários, debates, eventos, publicações e manifestações públicas.
Na década de 60 o Teatro Oficina foi o porta-voz da instauração do movimento tropicalista e, junto à Tropicália foi o grito antropofágico da década que padecia sob a repressão do AI-5, no governo militar.

O presidente militar Garrastasu Médici prometeu que dentre as maiores desgraças que fariam no Brasil com a ditadura militar seria acabar durante pelo menos 30 anos com a cultura brasileira (em conversa com amigos, nos lembramos disso a poucos dias), porque eles sabiam que um povo não se desenvolve sem a consciência cultural e então pode ser suprimido por toda e qualquer repressão: o poder, a peste. Ainda assim, o prédio do Oficina, construído pela arquiteta Lina Bo Bardi foi tombado em 1982 e por conta de sua arquitetura propositadamente e obviamente resistente, é hoje um patrimônio cultural_ símbolo da transformação e resistência da produção de arte, conhecimento e consciência no Brasil:
As atividades do Oficina estão firmes e fortes e José Celso não cai jamais!

(Em momentos aparentemente mais decisivos por conta de escolhas governamentais, esperamos sempre mais braveza, por isso viemos celebrar o Oficina. No entanto essa é uma mensagem atemporalmente ativa  e estamos aqui porque acreditamos na recuperação coletiva cultural do Brasil e não há quem nos faça desistir disso.)

AXÉ!




http://teatroficina.uol.com.br/

4 de outubro de 2010

gravura_II

É preciso apagar das gravuras, a legenda.
Perpetuar o gesto e o desejo.
Abandonar a margem o branco do papel e o medo.
Deixar que a gravura seja, a tempo. 








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BARBOSA, M. M. M. para acabar com as obras-primas ou sobretudo o verso.