2 de janeiro de 2010

Dedos, para um ano novo

Cá estamos no início da primeira dezena do segundo milênio!
Espero que o post de hoje possa dar um gostinho do que está por vir aqui no nosso espaço.

Continuando a falar sobre artistas que lidam com a questão do prazer, da sexualidade, das confusões mentais e de tudo que está ligado ao nosso íntimo (que é sobre o que acredito que a verdadeira arte, aquela que vem láááá de dentro, deve ser mesmo) eu gostaria de apresentar aos leitores um artista que tive o prazer de conhecer pessoalmente: DEDOS.


I don't have a problem

O trabalho de Dedos é um labirinto de cores, emoções e sensações, libidinosas, provocativas e irônicas, mas feitas com um esmero e beleza que atordoam o espectador. Espectador este que especta mas nunca consegue prever qual vai ser a próxima preciosidade-insana que irá encontrar ao virar a página que o artista irá nos apresentar. Por que é assim que Dedos faz, assim como Leonilson de quem falei no meu último post, o trabalho de Rafael (Dedos) abre-se (e a ele) como um livro. Expondo não só a obra mas também o artista.


Howling Hills

Insisto para que entrem no site do Dedos, onde podemos continuar a passear por este libidinoso labirinto de cores. http://dedos.info/
Lá também encotram-se o contato com o artista e um link para sua página no devianart.com

PS: suas imagens estão sendo constantemente retiradas do Devian Art devido ao seu conteúdo "explícito".

JFBrittes

1 de janeiro de 2010

atenta aos símbolos que sou

Atenta aos símbolos que sou – escrevi os devidos desejos/
Pois o verbo não pode ser omisso e iemanjá –a rainha do mar-
tem amor pela escritura, assim como eu.
Inauguro dois mil e dez com a força da ressaca marítima, que as vezes nos põe perplexos a comungar o belo, sem que precisemos invadir.

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1

Eu não enjôo quando vejo o mar
Deslumbro como quem não tem memória da imensidão
E como quem não processa a profundidade.
Serrei os olhos enquanto boiava para não perder a beleza escorregaria e ligeira do céu –
Saí ao contrário do costume, pois nunca me esqueço de não dar as costas pro mar.

2

Não fotografei com objetividade a bahia/ nem julguei o que era vulgar e deveras demasiado amargo para meus olhos/
Apenas traguei os fatos com a tolerância que me foi concedida pra que eu sobrevoasse as sete ondas profeticamente em favor do bem.


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Para não cometer atrocidades, compartilho agora um espasmo literário
de meu curandeiro e grande amigo Scalia:

do par, a parte que te cabe
não me cabe tocar não
pra quê de arredontar o exato?
tu já desata o tino à perfeição

ei, vamos brincar
desatinar o tido par é fácil
é só recontar e um dois do par virá dois um
eu vou retocar e um dois virará dois um

do par, a parte que me toca
não te toca caber não
pra que de arrebanhar o vasto
se eu já desvendo encanto à imensidão

vem, vamos brincar
desinventar o dito par é fácil
é só remontar e um dois do par virá dois um
eu vou retomar e um dois virará dois um

você é tão...
não sei te definir
é como luz brincando cor
se o par é um dois ou se ele é dois um
melhor brincar de sermos duns

por dar que é arte o desembaraçar
ser embaçando em tal questão
talvez eu trace exatamente vasto
o canto de tocar cabendo não



(mariana de matos)

31 de dezembro de 2009

um samba bonito para Iemanjá

ontem estive conversando com uma grande amiga e parceira deste projeto e ela me perguntou se esta minha postagem teria o teor que é preciso para fechar o ano.
fiquei pensando por horas o que poderia elaborar para uma revista eletrônica e especificamente para esta coluna sobre cinema e que tivesse o teor necessário para concluir bem o ano.
não me atento muito para estas datas festivas, mas acho justo deixar registrado aqui algo que possa trazer encanto para este espaço e que possa deixar tudo tranqüilo e sereno para que esta nova década que está por vir seja marcada por revolucionários que estejam afim de contribuir/exaltar a cultura brasileira.
pois bem, trago-lhes um trecho do documentário Saravá de 1969, do cineasta francês Pierre Barouh, no qual Baden Powell (um dos maiores violonistas de todos os tempos) interpreta o Afro-Samba Iemanjá,





“Iemanjá, rainha do mar, é também conhecida por dona Janaína”


Paula Motta

30 de dezembro de 2009

Formulário para Um Novo Urbanismo

Olá, pessoas que andam acompanhando o blog.
Fico imensamente feliz de saber que vocês aparecem por aqui para saberem do que é que estamos falando.
Recebi vários elogios ao blog e fico feliz de saber que o trabalho que iniciamos aqui não está sendo em vão.
Para finalizar o ano com chave de ouro, escolhi postar para vocês hoje um texto que acho de extrema importância para a arquitetura e o urbanismo. O Manifesto de Gilles Ivain, Formulário para Um Novo Urbanismo. O Gilles Ivain foi um cara muito importante na Internacional Situacionista, um movimento que pregava um novo urbanismo. Este manifesto que vocês lerão a seguinte, foi escrito em 1953 e é um dos textos fundadores do Movimento Situacionista. Falarei dos Situacionistas e da Internacional constantemente por aqui.
Bom, fiquem com o texto.
Um feliz ano novo para todos!

Gabriela de Matos.



Formulário para um Novo Urbanismo


                                                                                                                  Senhor, sou do outro país.


Percorrer a cidade é entediante, já não existe mais templo do sol. Por entre as pernas das passantes, os dadaístas queriam encontrar uma chave inglesa, e os surrealistas uma taça de cristal. Não deu certo. Sabemos ler nos rostos todas as promessas, último estado da morfologia. A poesia dos cartazes durou vinte anos. Percorrer a cidade é entediante, é preciso fazer um tremendo esforço para descobrir ainda algo de misterioso nas tabuletas da rua, último estado do humor e da poesia:


Banhos-Duchas dos Patriarcas
Máquinas de cortar carnes
Zoológico Nossa Senhora
Farmácia dos Esportes
Alimentação dos Mártires
Cimento translúcido
Serraria Mão-de-Ouro
Centro de recuperação funcional
Ambulância Santa-Ana
Quinta Avenida Café
Rua dos Voluntários Prolongada
Pensão de família no quintal
Hotel dos Estrangeiros
Rua Selvagem

E a piscina da Rua das Mocinhas. E a delegacia de polícia da Rua do Encontro. A clínica médico-cirúrgica e a agência de emprego grátis do cais dos Ourives. As flores artificiais da Rua do Sol. O Hotel dos Porões do Castelo, o Bar do Oceano e o Café do Vai-e-vem. O Hotel da Época.

E a estranha estátua do Dr. Philippe Pinel, benfeitor dos débeis mentais, nas últimas noites de verão. Explorar Paris.

E você, esquecida, suas lembranças destruídas por todos os lamentos do mapa mundi, abandonada no Caves Rouges de Pali-Kao, sem música e sem geografia, já não partindo para a fazenda onde as raízes pensam na criança e onde o vinho termina em fábulas de calendário. Agora, está terminado. Você não verá mais a fazenda. Ela não existe.

É preciso construir a fazenda.

Todas as cidades são geológicas, e não se pode dar três passos sem esbarrar em fantasmas, armados de todo o prestígio de suas lendas. Evoluímos numa paisagem fechada cujos pontos de referência nos remetem sempre ao passado. Certos ângulos móveis, certas perspectivas fugazes permitem-nos entrever concepções originais do espaço, mas essa visão permanece fragmentária. É preciso procurá-la nos lugares mágicos dos contos folclóricos e dos textos surrealistas: castelos, muros intermináveis, barezinhos esquecidos, caverna do mamute, espelho dos cassinos.

Essas imagens obsoletas conservam um certo poder de catálise, mas é quase impossível empregá-las num urbanismo simbólico sem rejuvenescê-las, atribuindo-lhes um novo sentido. Nosso imaginário povoado por velhos arquétipos acabou ficando muito atrás das máquinas aprimoradas. As diversas tentativas de integrar a ciência moderna em novos mitos permanecem insuficientes. O abstrato tem invadido todas as artes, em particular a arquitetura de hoje. O fato plástico em estado puro, sem anedota mas inanimado, descansa os olhos e os refresca. Para além encontram-se outras belezas fragmentárias e, cada vez mais distante, a terra das sínteses prometidas. Cada qual hesita entre o passado que vive no afetivo e o futuro já morto.

Não prolongaremos as civilizações mecânicas e a arquitetura fria cujo termo são os lazeres maçantes.

Nos propomos a inventar novos cenários móveis. (...)

A escuridão recua diante da luz artificial e o ciclo das estações, diante das salas climatizadas: a noite e o verão perdem o encanto, e a aurora desaparece. O homem das cidades julga se afastar da realidade cósmica e por isso já não sonha. O motivo é evidente: o sonho tem seu ponto de partida na realidade e nela se realiza.

O último estágio da técnica permite o contato permanente entre o indivíduo e a realidade cósmica, uma vez que elimina seus aspectos desagradáveis. O telhado de vidro deixa ver as estrelas e a chuva. A casa móvel gira com o sol. As paredes de correr permitem que a vegetação alastre-se pela vida. Montada sobre rodas, uma casa pode avançar pela manhã até o mar e voltar à noite para a mata.

A arquitetura é o meio mais simples de articular tempo e espaço, de modular a realidade, de fazer sonhar. Não se trata somente de articulação e de modulação plásticas, expressão de uma beleza fugaz. Mas de modulação influencial, que se inscreve na curva eterna dos desejos humanos e do progresso na realização desses desejos.

A arquitetura de amanhã será portanto um meio de modificar os atuais conceitos de tempo e de espaço. Será um meio de conhecimento e um meio de agir.

O complexo arquitetônico será passível de modificação. Seu aspecto pode mudar em parte ou totalmente, segundo a vontade de seus moradores. (...)

As coletividades do passado ofereciam às massas uma verdade absoluta e exemplos míticos indiscutíveis. A entrada da noção de relatividade no espírito moderno permite conjeturar o lado EXPERIMENTAL da próxima civilização, ainda que o termo não me seja satisfatório. Digamos mais flexível, mais "divertido". Sobre as bases dessa civilização móvel, a arquitetura será — pelo menos no início — um meio de experimentar as mil maneiras de modificar a vida, em busca de uma síntese que só pode ser lendária.

Uma doença mental invadiu o planeta: a banalização. Todos estão hipnotizados pela produção e pelo conforto — esgoto, elevador, banheiro, máquina de lavar.

Esse estado de fato, que nasceu de um protesto contra a miséria, ultrapassa seu objetivo primeiro — libertar o homem das preocupações materiais — para se tornar uma imagem obsessiva no imediato. Entre o amor e o triturador automático de lixo, a juventude de todos os países fez sua escolha e prefere o triturador. Uma reviravolta completa das mentes tornou-se indispensável, pela revelação de desejos esquecidos e pela criação de desejos inteiramente novos. E por uma propaganda intensiva em favor desses desejos.

Já sinalizamos a necessidade de construir situações como um dos desejos básicos sobre os quais seria estabelecida a próxima civilização. Essa necessidade de criação absoluta sempre esteve ligada à necessidade de jogar com a arquitetura, o tempo e o espaço. (...)

Um dos mais destacáveis precursores da arquitetura continuará sendo De Chirico. Dedicou-se aos problemas das ausências e presenças através do tempo e do espaço.

Sabe-se que um objeto, não percebido conscientemente durante uma primeira visita, provoca, por sua ausência nas visitas seguintes, uma impressão indefinível: por uma correção no tempo, a ausência do objeto se faz presença sensível. Mais precisamente: embora fique geralmente indefinida, a qualidade da impressão varia segundo a natureza do objeto retirado e a importância que o visitante lhe confere, o que pode ir da alegria serena ao terror (pouco importa que no caso em questão o veículo do estado de alma seja a memória. Só escolhi esse exemplo por comodidade).

Na pintura de Chirico (período das Arcadas) um espaço vazio cria um tempo bem preenchido. É fácil imaginar o futuro que reservaremos a tais arquitetos e quais serão suas influências sobre as multidões. Hoje, só nos resta o desprezo por um século que relega semelhantes maquetes a pretensos museus.

Essa nova visão do tempo e do espaço que será a base teórica das construções futuras ainda não está formulada e nunca o estará completamente antes que se experimente o comportamento em cidades destinadas a essa finalidade, onde estariam reunidas sistematicamente, além de estabelecimentos indispensáveis a um mínimo de conforto e de segurança, construções marcadas por um grande poder evocador e influente, edifícios simbólicos figurando os desejos, as forças, os acontecimentos passados, presentes e futuros. À medida que desaparecem os motivos de apaixonar-se, se faz mais urgente uma ampliação racional dos antigos sistemas religiosos, dos velhos contos e sobretudo da psicanálise, em proveito da arquitetura.

De certa forma, cada qual habitará sua "catedral" pessoal. Haverá edifícios que farão sonhar melhor que as drogas, e casas onde só se poderá amar. Outros atrairão os viajantes de forma irresistível...

Pode-se comparar esse projeto aos jardins chineses e japoneses pintados em trompe l'oeil — com a diferença de que estes jardins não são desenhados para neles se viver completamente — ou ao labirinto ridículo do Jardin des Plantes em Paris, à entrada do qual se pode ler um aviso, o cúmulo da estupidez, Ariadne desempregada: É proibido brincar no labirinto.

Essa cidade pode ser imaginada sob a forma de uma reunião arbitrária de castelos, grutas, lagos etc. Seria o estágio barroco do urbanismo, considerado como meio de conhecimento. Mas essa fase teórica já está ultrapassada. Sabemos que é possível construir um prédio moderno nada parecido com um castelo medieval, mas que conserve e multiplique o poder poético do Castelo (pela manutenção de um mínimo estrito de linhas, pela transposição de algumas outras, pela localização das aberturas, pela situação topográfica etc).

Os bairros dessa cidade poderiam corresponder aos diversos sentimentos que encontramos por acaso na vida cotidiana.

Bairro Bizarro — Bairro Feliz, reservado em especial à habitação — Bairro Nobre e Trágico (para crianças bem comportadas) — Bairro Histórico (museus, escolas) — Bairro Útil (hospitais, lojas de ferramentas) — Bairro Assustador etc. E um Astrolário que reuniria as espécies vegetais de acordo com as relações que elas mantêm com o ritmo estelar, jardim planetário comparável àquele que o astrônomo Thomas tenta estabelecer em Viena no local chamado Laaer Berg. Indispensável para dar aos habitantes uma consciência do cósmico. Talvez também um Bairro da Morte, não para ali morrer mas para se viver em paz, e, neste caso, penso no México e num princípio de crueldade na inocência, que aprecio cada dia mais.

O Bairro Assustador, por exemplo, supriria com vantagem os buracos, bocas de inferno que muitos povos possuíam outrora em suas capitais; simbolizavam as forças maléficas da vida. O Bairro Assustador não teria a necessidade de conter perigos reais, como armadilhas, calabouços ou minas. Teria um acesso complicado, uma decoração horrorosa (apitos estridentes, sinais de alarme, sirenes periódicas em intervalos irregulares, esculturas monstruosas, móbiles mecânicos com motor, chamados Auto-Móbiles) e pouca iluminação à noite, embora violentamente iluminado de dia pelo uso abusivo do fenômeno de reverberação. No centro, a "Praça do Móbile Medonho". A superabundância de um produto no mercado provoca a queda de seu valor: a criança e o adulto aprenderiam pela exploração do Bairro Assustador a não temer os fatos angustiantes da vida, mas, ao contrário, divertiriam-se com eles.

A principal atividade dos habitantes será a DERIVA CONTÍNUA. A mudança de paisagem de hora em hora vai levar ao completo desenraizamento. (...)

Mais tarde, pelo inevitável desgaste dos gestos, essa deriva deixará em parte o domínio do vivido pelo da representação. (...)

A objeção econômica não resiste à primeira olhada. É sabido que, quanto mais um lugar é destinado à liberdade de jogo, mais influi sobre o comportamento e maior é sua força de atração. Prova disso é o imenso prestígio de Mônaco e de Las Vegas. E de Reno, caricatura da união livre. Trata-se contudo de meros jogos do dinheiro. Essa primeira cidade experimental viveria com fartura de um turismo tolerado e controlado. As subseqüentes atividades e produções de vanguarda surgiriam por si mesmas. Em alguns anos ela se tornaria a capital intelectual do mundo, e seria em qualquer parte reconhecida como tal.

                                                                                                                                           Gilles Ivain





29 de dezembro de 2009

E eu declaro: a verdadeira fotografia de moda!

A verdadeira... aliás de qual verdade estou falando, da minha ou da sua?
Aquela que alguma revista ou pessoa importante consagrou ou aquela obscura, independente, que luta por si só para ser uma expressão de linguagem?


A verdadeira. A boa e velha reconfortante-única-opção que temos sem nos permitir o erro e ainda garantir uma Certa opinião dentro de uma discussão, certo?


Bem, tudo isso somente para expressar a não existência da verdadeira fotografia de moda, tampouco a verdadeira moda. Aliás, o que se apresenta nas ruas é um verdadeiro palco de excentricidades, ou melhor, uma espécie de passarela, cujo desfile de moda é baseado na interpretação intuitiva e subjetiva daqueles que desfilam. Aqui, preciso ressaltar que a subjetividade é coletiva, ou seja, é relacionada com experiências e estímulos cotidianos.


Então o que fazer a partir de agora que entitulei esse meu post de a verdadeira fotografia de moda? Acho que não me resta mais do que colocar aqui algumas imagens que no universo do meu gosto preenchem o olhar de informação e expressão. Colocarei também algumas imagens do meu trabalho pessoal que captura, recorta, inserem pequenos universos dentro do hipercentro da cidade de Belo Horizonte e significam alguma coisa aos olhos de quem vê e veste.


Bom apetite!



Fotografia de Rankin



 Fotografia de Rankin

 


Fotografia de Autum de Wilde para Rodarte

 


Fotografia retirada do site freakstyle.com









 



 
 Fotos pessoais realizadas no Hipercentro de Belo Horizonte expostas em 2009 


Flávia Virgínia


28 de dezembro de 2009

teatro_ performance_ vitalidade

pensei em, após artaud, apresentar um ato/ação contemporâneo que se relacione, traga ou coloque de alguma forma, a partir de sua manifestação, a natureza das proposições estéticas feitas pelo Teatro da Crueldade.

em novembro desse ano tive a oportunidade de assistir a uma palestra/performance/ação de clarissa alcântara.
clarissa é filósofa, mestre e doutora em literatura, professora no curso de artes cênicas da UFOP e, nessa ação, apresentou-nos seu objeto/tese teatrodesessência/corpoemaprocesso.
(a performance é uma linguagem muito estudada por diversas áreas do conhecimento e tida como híbrida por carregar características tanto do teatro quanto das artes plásticas).

durante esses dias, pensei numa forma de narrar ou descrever aqui a apresentação de clarissa e, em vez de me frustar ou desistir desse texto pela impossibilidade que encontrei em o fazer assim, resolvi colocar algumas das percepções que tive e que me envolveram durante e após essa apresentação.
clarissa não 'obedece às regras' e por isso não seria justo ou possível subordiná-la a nomenclaturas ou discriminadas descrições.

clarissa desconstrói o sentido, formato e representação da tese, a materializa em rolos de tecidos que encobre e descobre o corpo, 'evoca' artaud, deleuze, guattari (e outros grandes nomes que me faltam à memória), cita nietzsche, balbucia, geme, silencia, grita e questiona: o lugar das coisas, a perenidade e fragilidade delas, o tormento e o desassossego em saber e lidar com elas.
traz uma carga que emana no ambiente e dificilmente permite deixar alguém ileso.
não se fazem necessários pré-requisitos grandes e elaborados para assisti-la, se envolver e sentir-se cúmplice. clarissa conta com o corpo e o movimento para lidar com emoções e sensações do ser (e do estar).

o teatro é essa colocação do ser no espaço e é também a contaminação do ambiente e do outro.
a vitalidade e a verdade é o que dão voz e sentido à arte, o que a faz clara e “amiga”.

'o desejo exprime-se por uma carícia, tal como o pensamento pela linguagem'
jean-paul sartre




(ana pedrosa

manifesto pela cultura digital brasileira

Cultura Digital Brasileira

A liberdade é essência e aspiração

Rogério Duprat. 1963 + Damiano Cozzella.
Num IBM 1620 da Escola Politécnica da USP
(música + academia) = Klavibm II
Cibernética + Bossa Nova + Cultura Pop
Informações em rede antes da rede
Tropicália = O direito à tecnologia, ao universal

A música da bahia, onde o Brasil principia
“Se segura milord aí que o mulato baião
(tá se blacktaiando)
Smoka-se todo na estética do arrastão”

Oswald redivivo, no fluxo atemporal da cultura
Contra o (neg)ócio
O (sacerd)ócio
A favor do ócio
E da política da afetividade
Roteiros, roteiros, roteiros, roteiros, roteiros, roteiros, roteiros, roteiros, roteiros

A obra digital não se realiza plenamente
Conceber é realizar

Computador = máquina de calcular,
de processar,
de comunicar
y de telecomunicar.

Computadores fazem arte
Artistas, dinheiro

Gilberto Gil no espelho
A Luz no retrovisor
A liberdade é essência e aspiração

Erro = venture capital
que a luta pela acumulação de bens materiais
Já não será preciso continuar
A luta pela acumulação de bens materiais
Já não será preciso continuar

A economia do verbo, do verso:
A crise do dinheiro que não cria riqueza
A rede é firmeza e produz valor
A rima vem pelo meio
Rasgando da ponta para o centro
Carrega o discurso do extremo

O passado:
a pilhagem do bem comum
o desmonte da coletividade
O presente:
a reconstrução do comum
uma sociedade de comunidades

Planetária
Igualitária
Libertária
Horizontal

Abundância gera abundância

A liberdade é essência e aspiração

A internet
A World Wide Web
big science + pesquisa militar + cultura libertária

Cartografia 1:1
Caminhos que se bifurcam y se bifurcam y se bifurcam
É preciso fazer o upload do acervo tombado para o ciberespaço tombado
Bibliotecas de corredores infinitos y livros infinitos
A história da humanidade
Cria líquida da ultramodernidade

Nômades e Neoprimitivos
Jamais fomos modernos

Chip = LSD
A mente expandida
Coletiva
Multidões inteligentes
A criar, a criar, a criar, a criar, a criar.
O artista é o cidadão que é o artista
Eu crio, tu crias, ele cria.
Nós criamos. Vós criais.

A liberdade é essência e aspiração

Acesso, acesso, acesso, acesso, acesso, acesso, acesso, acesso, acesso
Banda Larga Pública para o povo,
Na Lanhouse do Saboeiro
No telecentro de São Gabriel da Cachoeira
Conexão na casa do mestiço
Computador X televisão

A luta pela fala dos expropriados
Na África, na Ásia, na América do Sul
A mesma condição de interação
E vamos ver quem samba na navalha!

A tecnologia é a sociedade
E vice-versa, sem determinismo

A liberdade é essência e aspiração


Soluções para a aventura humana
Processos de formação P2P:
Redes distribuídas

Somos tod@s piratas –
O estado-corsário (na aliança pelo saque)
Na mesma nau sem rumo
Distribuição da dádiva.

A propriedade é um roubo.

Software livre
GNU > Acrônimo recursivo
Copyleft
Sai pra lá.

A contribuição milionária de todos os plágios
Que derrubem o altar da genialidade
Sacrifiquem a originalidade
E deixem o autor em seu lugar.

A essência é a recombinação
A colaboração
O remix
A ubiquidade

Live
Espaço-tempo alterado
Onde devo clicar,
participar,
opinar,
y quando devo contemplar,
ouvir,
simplesmente absorver?

O Brasil é uma virtualidade
o mundo se virtualizou
Encontrou-nos prontos pra ele
Bora lá…


A autoria do texto é anônima, ou simplesmente desnecessária. O manifesto foi distribuído no Seminário Internacional do Fórum da Cultura Digital Brasileira.

Retirado do blog: http://www.trezentos.blog.br/?p=3506