19 de abril de 2010

porque a estética tem fome

coloquei os dois cara-a-cara, um em cima do outro.
por vezes me esqueço do que semiologicamente aprendi a ver distinto e , assim, aproximo arbitrariamente dois corpos que estruturalmente não se encontram, com razão.
talvez seja pelo fato do existencialismo ter sido fundado, como se não fosse intrínseco aos espíritos desassossegados com tudo o que é condição.


aquele livro foi meu de uma forma que nem mesmo eu, ou mamãe podemos localizar (e mamãe pontua tudo).
a prosa de pessoa é o livro dos meus dias e ouso dizer que está bem perto do que seria pra mim uma visão.


então colei artaud naquela peça infâme que quero apresentar pra os que nos lêem durante as horas que mari disse que miranda usou para comer tudo o que podia de nosso fluxo.
ainda não arrumei um jeito de fazer isso, mas virá, bem sei que virá.


artaud disse, em carta à barrault, que entende que ele possa enxergar cumplicidade de propostas desses dois teatros que são vida, mas, ainda assim, não estão juntos. 
grotowski é pobre para fazer teatro e é um homem que atribui sua ambição à outras nuances. e seu teatro é grandioso até nas matizes.
eu, que corôo as cores, entendo sua escolha e até acho que, no entanto, também poderia assim o fazer.


eu, escrevo sobre o teatro que não faço e talvez não faça sentido pra os que conheço como atores e ainda talvez não tenha muito sentido pra alguém. isso será sempre um enigma e enigmas são mistérios que preciso saber que existem.
ainda assim, digo: que sou um homem de teatro.
assumo porque queremos encantar para construir. esse é um terreno muitas vezes perigoso, mas os situcionistas sobreviveram.
sou maçante e obstinado porque tenho a impressão de ter alguma coisa a dizer: aquilo que sempre considerei uma espécie de impermeabilidade do mundo cênico a tudo que não pertence estritamente a ele, a quase inutilidade da palavra que não é mais o veículo, mas o ponto de sutura do pensamento, a futilidade de nossas preocupações sentimentais ou psicológicas, tudo isso em profundidade e em perspectiva, sejam construções absolutamente novas do espírito; tudo isso deve ser preenchido, satisfeito, representado e levado adiante pelas surpreendentes realizações.
pois:
se o teatro duplica a vida, a vida duplica o verdadeiro teatro (e isso não tem nada a ver com as idéias de oscar wilde sobre a arte).
isso corresponde à todos os duplos do teatro: a metafísica, a peste, a crueldade, o reservatório de energias que constituem os mitos que não são mais encarnados pelo homem, são encarnados pelo teatro. 
o duplo é o agente mágico do qual o teatro é a transfiguração.




a arte permanece colônia.


nessa colônia vivem a esterilidade e a histeria- glauber me contou quando disse passar fome.
eu sinto fome, e artaud saberia, portanto me cede o que sabe não mais pertencê-lo_ a fome. 
eu sinto fome, rio e também posso chorar.


vomito porque não gosto de circo- van gogh na sala de jantar não pode ser digestivo.


a mais nobre manifestação cultural dessa fome é a violência. por isso, a música em pernambuco chama resistência e braveza.
a única estética revolucionária advém dessa violência, que caoticamente pode lhe parecer primitiva.
mas, atende aos símbolos todos que somos:


a palavra é o grito dessa existência.
e, a arte que se realiza na política da fome sofre as fraquezas de tal existência.
no entanto, sabemos que ela virá.


manda descer pra ver- filhos de gandhi!

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