27 de agosto de 2010

a lógica do mês oito IV

TORQUATO NETO – Nascido absurdo no Piauí no dia 9 de 9mbro de 44.



eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível


eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora


eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim


eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.

26 de agosto de 2010

a ideologia do autor

Walter Benjamin reproduzido tecnicamente

No ensaio sobre a reprodutibilidade técnica há uma passagem em que W. Benjamin destaca certa transição, um processo de refuncionalização da arte [é sob este ponto de vista que o ensaio trata a questão da tecnologia, em seu papel na refuncionalização da arte e na transformação do sensorium social. Não vá esquecer disso e começar a pensar que W.B. é um pensador da web 2.0!], bem, eu dizia que Benjamin demarca a passagem em que a arte perde sua função ritual (mágica, religiosa) para adquirir autonomia enquanto campo (e se estabelecer como mercado). Uma segunda transição nasceria com a reprodutibilidade técnica da obra de arte, notadamente com a fotografia e monstruosamente com o cinema, por uma série de razões que não vêm ao caso. O que vem ao caso é a maneira como Benjamin observa toda a lenga-lenga da discussão seria o cinema uma forma de arte?. — “O esforço para conferir ao cinema a dignidade da ‘arte’ obriga (…) a introduzir na obra elementos vinculados ao culto”, Waltão aponta, com certeiro dedo.




Como assim a imagem não tem nada a ver com
o texto?
Penso, repenso, martela em minha cabeça um “argumento” em defesa da manutenção da indústria fonográfica em seus padrões, digamos, clássicos, que ouvi recorrentemente nos debates lá no Música & Movimento: “quem é bom se estabelece!”. Quer dizer: não há nada de errado com o modelo de indústria se o gênio artístico supera a desumanidade da máquina e se estabelece, audível e visível em sua integridade. É aí que me vem certeira à mente a expressão de Benjamin, “introduzir elementos vinculados ao culto” –  mistificadores, ideológicos.

O autor, enquanto fundo ideológico da indústria cultural, é um gigantesco saco sem fundo. É o 
elemento de culto por trás do argumento de que “quem é bom se estabelece”. Aliás, é curioso que o pensamento de Benjamin seja indissociável do surrealismo, que nos anos dourados seguiu o questionamento da ideia de autoria e identidade aberto por Lautréamont no século 19 – o que me impede de descontextualizar completamente sua expressão!
Não precisa me dizer que o gênio existe e que a criatividade existe etc. Eu tô sabendo. Só que para salvá-lo de ser um lustroso brasão no paletó da máfiaindústria cultural, às vezes só é possível desinteressar-se dele. Muitas vezes,cultuar o gênio é sentar-se nos duros bancos da igreja do Capital.
Em tempo. Caso tu tenha clicado no link pro ensaio de Benjamin, há uma imprecisão no arquivo. A primeira versão do texto (que é a disponibilizada) é de 1936, e não de 1955. Eu sei, eu sei, mas isso é importante sim!

25 de agosto de 2010

Ave, Paulo Mendes da Rocha!

Hoje vou deixar para vocês um trecho de uma fala de Paulo Mendes da Rocha em uma entrevista.
Era exatamente o que eu queria dizer hoje, mas eu não sou Paulo Mendes da Rocha.

"(...) Não só as coisas são vistas com redimo assim, por capítulos herméticos, como a nossa historia não vai se suceder mais por capítulos herméticos, tão herméticos. Não vai ser possível, você raciocinar assim. Nunca teria sido possível, só que não se sabia com tanta clareza como hoje, tu compreendes? Porque uma questão banal – quando se diz que todo mundo concorda, portanto, quando se diz – fala de multidisciplinaridade. Por exemplo: que hoje a arquitetura, é supremamente multidisciplinar. Percebe-se, claramente, que não é um somatório de disciplinas o que resolve essa questão. Se você quiser manter a afirmação porque é imensurável, não é um somatório de disciplinas ou de conhecimentos com uma carga enorme, é uma qualidade peculiar de conhecimento. É conhecer de um modo peculiar, pois estamos todos nessa. Portanto, por exemplo, acho a ciência e a técnica, cada vez mais decisivas na hora de você decidir uma coisa que ainda não existe. Nós somos artistas, técnicos e cientistas, descendentes do macaco, se não, não estaríamos aqui. Portanto as obras suscitam interesse porque conseguem a convocação do conhecimento."

Pensem nisso.



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Gabriela de Matos.
Modelo brasileiro de incentivo à cultura precisa mudar



A reforma da Lei Rouanet dominou os debates do primeiro Seminário de Gestão de Instituições, realizado pelo Ministério da Cultura (MinC), nesta quinta-feira (19), no Museu de Arte de São Paulo (MASP). O encontro propôs a análise dos modelos vigentes e a discussão novas formas de gestão para a cultura brasileira. De acordo com os gestores, o modelo brasileiro de incentivo à cultura está esgotado e é preciso encontrar novas formas de financiar a atividade cultural no país.


"Devemos buscar soluções mais dinâmicas para sairmos desse modelo já existente", propôs o secretário executivo do MinC, Alfredo Manevy. Para ele, a política de incentivo chegou a um limite a partir do qual é necessário um planejamento estratégico para que suas ações sejam efetivamente aproveitadas pela população. “Esse encontro propiciou discussões promissoras sobre políticas públicas e tornou-se um embrião para articularmos os próximos fóruns. Para isso, precisamos definir qual será o papel de cada um de nós dentro deste contexto. Constatamos que o campo cultural é bastante heterogêneo e cabe ao Ministério da Cultura liderar um debate com a sociedade sobre uma agenda estratégica para gestão da cultura", acrescentou.



O economista e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira criticou a gestão da cultura no Brasil atualmente, na qual o Estado é o financiador, mas as decisões de como os recurso serão aplicados são tomadas pela iniciativa privada, e sentenciou: "É preciso mudar o modelo brasileiro de incentivo". Bresser explicou que, na Europa, em geral, o Estado financia a cultura e toma as decisões, enquanto nos Estados Unidos, a iniciativa privada financia e decide tudo. O ex-ministro considerou positiva a realização do Seminário. "Essa reunião de administradores e gestores culturais dá mais legitimidade às políticas públicas dessa comunidade, prova que existe uma economia de cultura e, mais que isso, que existe política de cultura no Brasil", avaliou.



O secretário municipal de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil, acredita que "é preciso avançar nas gestões de cultura e ter diferentes modelos para cultura, esporte, saúde, educação e demais pastas". O secretário reiterou a necessidade de realizar uma revisão nas leis de renúncia, para corrigir algumas distorções. "Instituições que levam nomes de empresas, por exemplo, não deveriam receber recursos governamentais", argumentou. Calil defendeu ainda que as ações de incentivo à cultura não devem repetir fórmulas, mas serem complementares entre si, como ocorre nos Pontos de Cultura.



Para Manevy, essas manifestações dos gestores sobre a criação de novos meios de financiar a cultura indica que a Lei Rouanet (Lei nº 8.313/1991) precisa ser reformulada. O projeto de lei que modifica essa lei está em tramitação no Congresso Nacional.



Reforma da Lei Rouanet



A proposta de alteração da lei foi feita pelo MinC e cria um sistema público e transparente de critérios tanto para o acesso aos recursos do Fundo Nacional de Cultura (FNC) quanto do incentivo fiscal. Estado e patrocinadores serão estimulados a aprimorar seus mecanismos de relação com os produtores e artistas com a divulgação de critérios claros para avaliar a dimensão simbólica, econômica e social para o uso do recurso público. A lei transforma o FNC no mecanismo central de financiamento ao setor, criando formas mais modernas de fomento a projetos. Garante-se, assim, que os recursos cheguem diretamente aos proponentes, sem intermediários e com maior participação da sociedade, por meio da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), que dará origem a comissões setoriais.



Em 2010, como parte de um processo de transição, o Ministério da Cultura se prepara para a implementação da nova lei. O FNC, por exemplo, recebeu dotação orçamentária recorde, acima de R$ 800 milhões, e fará repasses a fundos estaduais e municipais, impulsionando a cooperação federativa. Dentro do FNC serão criados oito fundos setoriais: das Artes Visuais; das Artes Cênicas; da Música; do Acesso e Diversidade; do Patrimônio e Memória; do Livro, Leitura, Literatura e Humanidades, criado por lei específica; de Ações Transversais e Equalização; e de Incentivo à Inovação do Audiovisual. Eles se somam ao já existente Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).



O objetivo é atender toda a diversidade cultural brasileira e diversificar também os mecanismos de investimento e apoio. Entre elas está o “endowment”. Trata-se de um incentivo para que fundações culturais – museus, orquestras e outros equipamentos – constituam um fundo permanente de aplicações de longo prazo, com o objetivo de obter sustentabilidade, estabilidade financeira e diminuir a dependência da renúncia fiscal em sua modalidade atual. Outro mecanismo é o Fundo de Investimento em Cultura e Arte (Ficart), no qual os investidores se tornam sócios de um projeto cultural. O Ficart ganha agora o incentivo que o tornará atrativo e viável, o que a lei atual não permite.





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texto retirado do site: http://www.vitruvius.com.br/

24 de agosto de 2010

Fragmentos sobre a linguagem:


Porque a linguagem é uma unidade:
Desde o começo dos tempos, o Homem expressou e fixou seus pensamentos recorrendo a signos, logo, estes foram ao mesmo tempo uma escritura, um desenho e uma pintura (...) Eram signos (...) para serem lidos, destinados a representar idéias e resignificá-las. : 
(...)
Aqueles versos chegaram até mim através de sua música. Eu pensava que linguagem fosse um modo de dizer as coisas, de externar queixas, de dizer se estava feliz ou triste etc. Mas quando escutei aqueles versos (e os continuo escutando, em certo sentido, desde então), soube que a linguagem podia também ser música e paixão e assim me foi revelada a poesia.¹
(...)
Esta origem comum às artes e às letras, contadas e percebidas em vários momentos da História, sofrerá aproximações e distanciamentos no seu decorrer e muitas vezes se fundirão para perturbar e combater formas de poder.²

Porque a linguagem (deve) se constrói na singularidade:
(...) o teatro, arte independente e autônoma, para ressuscitar ou simplesmente viver deve acentuar aquilo que o distingue do texto, da palavra pura, da literatura e de todos os meios escritos ou fixos.
(...) esta concepção, que consiste em fazer as personagens sentarem numa certa quantidade de cadeiras ou poltronas enfileiradas e contarem-se mutuamente algumas histórias, (...) é o fato de o teatro ter-se tornado algo essencialmente psicológico, alquimia de sentimentos, e que o máximo da arte em matéria dramática tenha acabado por consistir num certo ideal de silêncio e imobilidade.
(...)
Não está de modo algum provado que a linguagem das palavras é a melhor possível. E parece que em cena, que é antes de mais nada um espaço a ser ocupado e um lugar onde alguma coisa acontece, a linguagem das palavras deve dar lugar à linguagem pelos signos cujo aspecto objetivo é aquilo que de modo mais imediato nos atinge.³

Porque é preciso que defendamos e lutemos pela arte, antes conhecendo-a nos seus desejos profundos e nos esclarecendo de suas peculiaridades:
'Atentem aos signos que somos!'

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¹ BORGES, Jorge Luis. Esse ofício do verso. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
² MARTINS, Giovanna V. Grapefruit: projeções poéticas sobre o mundo. In: Grapefruit: Fusões em campos de significação. UEMG, 2009.
³ ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Max Limonad Ltda, 1984.

23 de agosto de 2010

Me falaram que minha arte não é contemporânea.

Me falaram que minha arte não é contemporânea. Talvez eles estejam certos. Certamente eu não trabalho com a linguagem mais popular, os materiais ou assuntos da última moda... com certeza não estou nas panelinhas certas e fazendo links com os bambambans.... É talvez eu não seja contemporâneo. Certamente nunca me senti muito na moda... sempre gostei de Marina Lima.

A verdade é que talvez eu deveria ter nascido alguns séculos atrás. Talvez e eu seja um romântico, no sentido original da palavra. Não com a conotação melodramática e toque de happy ending que se popularizou na nossa cultura americanizada. Mas sim aquele sofredor, que só se da mal, não fica com ninguém e ainda morre de tuberculose no final...


medos & esperanças, nanquim 200?

Depois de quebrar a cabeça algum tempo pensei – Hora, posso não estar na última moda, posso trabalhar com materiais e assuntos que são só de meu interesse (talvez eu seja egoísta). Mas o que eu faço, eu faço hoje em dia, e É minha produção atual. Claro que sou contemporâneo, ainda estou vivo!