6 de maio de 2010

cinema independente


Alguns movimentos do cinema pós-segunda guerra mundial são bem conhecidos. É o caso do neo-realismo italiano, da nouvelle vague francesa ou do cinema novo brasileiro. Todos esses movimentos propunham um novo fazer cinematográfico, um cinema de autor, de forte tendência ideológica socialista, buscando uma alternativa ao cinema comercial de Hollywood. A própria indústria norte-americana seguiria esse viés, através de produtoras independentes surgidas a partir de meados da década de 1950.

Atualmente no Brasil existem movimentos em áudio-visual que seguem a linha desse cinema independente, cada qual com suas características próprias, mas buscando todos meios de produção alternativos. Cito três deles aqui: cinema possível, cinema pobre e cinema canibal.
O cinema possível tem, por característica, a busca de meios que possibilitem ao autor/diretor expressar suas idéias, dentro de uma estética e estilo próprios – que vão desde as produções mais convencionais às altamente experimentais. Diante do custo de se fazer cinema, o vídeo pode ser uma alternativa e até câmeras de celular servem para captação de imagens. Estúdios de edição caros e inacessíveis são substituídos por programas de edição baixados em computadores comuns. Cenários e figurinos são improvisados e o trabalho é feito em parceria, com amigos ou pessoas que busquem participar da mesma experiência criativa. Utilizar o possível, que esteja disponível, para atingir o máximo de qualidade na produção, essa é a meta principal do cinema possível.

O cinema pobre busca a limpeza, a simplicidade crua no uso da câmera e na edição das imagens. Herdeiro direto do cinema novo, que tinha como lema uma idéia na cabeça e uma câmera na mão, está muito próximo de outro movimento recente, o dogma. Passa também pelo neo-realismo, pela negação do ator profissional, buscando pessoas comuns para atuar como elas mesmas. Nesse ponto, o cinema pobre é quase documental e fortemente marcado pela ideologia. Mais do que o cinema possível, cuja preocupação é o fazer, a busca de soluções técnicas para a realização de uma idéia, o cinema pobre se pretende engajado nas questões sociais do espaço em que atua.

Cinema canibal surge da produção do cineasta catarinense Petter Baiestorf, que montou a Canibal Produções no início da década de 1990 para produzir o chamado cinema trash. O termo “trash” é muito subjetivo, mas refere-se principalmente a um cinema feito com poucos recursos, geralmente com temas fantásticos ou bizarros. Esse cinema foi muito popular na década de 1950, nos cinemas de drive-in. No Brasil, seu principal representante seria José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Boa parte dessa produção apela para o horror gore ou splatter, com muito sangue, mutilações e escatologia. O que difere o cinema canibal do trash convencional é que Baiestorf busca aliar sua produção a um movimento estético-ideológico, através de manifestos onde defende uma produção anarco-poética.
Se esses movimentos atingem os objetivos a que se propõem é algo a ser visto com o tempo. Dos três, a maior produção parece ser a do cinema canibal, com uma longa filmografia que inclui pérolas como Monstro Legume do Espaço e Caquinha Superstar, e com seguidores que buscam imitar a linha de suas produções. Mas é sempre difícil mensurar isso, quando se pensa que tanto o cinema possível quanto o cinema pobre podem não significar movimentos, no sentido exato do termo, mas iniciativas isoladas independentes que se assemelham e podem ser executadas a qualquer momento, em qualquer lugar, sem que seus produtores saibam que seguem uma tendência já existente. Afinal, trata-se aqui, em qualquer dos casos, de cinema de resistência, sejam curtas ou longas-metragens, em vídeo ou sob qualquer outro suporte (até imagens de câmeras pin-hole servem para se fazer um curta).

Cinema pobre, possível, canibal; seja qual for a denominação, três fatores sempre se impõem como determinantes na produção do áudio-visual independente: criatividade, informação e vontade. A criatividade, na forma de uma idéia, é o ponto de partida. A informação vem na forma de uma bagagem cultural ampla, que permita trabalhar essa idéia dentro da linguagem do áudio-visual. E vontade, principalmente, para superar as dificuldades e levar o projeto adiante, até sua conclusão.

5 de maio de 2010

Os vazios industriais e suas necessidades de serem ocupados.

Hoje vou falar para vocês de um conceito teórico francês, ainda pouco difundido, chamado de “Friches Industrielles” e “Friches Urbaines”, vinculados ao planejamento urbano. Não possuímos em nossa língua designação para este fenômeno que acontece hoje em dia em várias cidades do mundo.

O conceito surgiu para discutir alterações econômicas num determinado espaço, como o aparecimento de ruínas e vazios industriais.

Foi o geógrafo Jean Labasse, em 1966, um dos primeiros autores a introduzir o conceito de vazios sociais, “friches sociales”, associado aos conceitos de “ciclos industriais”, e de “descentralização industrial”.

Pela definição do Service Technque de l´Urbanisme(STU), o conceito “friches”, mais precisamente de “friches industrielles”, é utilizado para designar “um espaço, construído ou não, desocupado ou muito sem utilização; antes ocupado por atividades industriais ou outras atividades ligadas à indústria. A reinserção deste espaço no mercado imobiliário, independente do seu uso, implicará num novo planejamento, salvo a utilização precária ou provisória”

As ações públicas podem ser simples porém muito importantes para a “reconquista” do espaço.

Para uma reutilização das friches, necessita-se no entanto, de estudos de urbanismo, mas uma política polivante é uma forma coerente de reconquista destes espaços.

Rietbergen(1989) fala da importância da “preservação dos monumentos industriais”. Ele cita os Países Baixos e Grã Bretanha como pioneiros neste tipo de “arqueologia industrial”. Para ele, a reutilização de construções industriais é uma medida de conservação mais concreta que a proteção oficial por aspectos culturais e históricos ou a restauração destes bens.

As seguintes possibilidades também podem ser consideradas, segundo o autor: o edifício pode ser restaurado recobrando seu estado originais; pode-se dar prioridade aos aspectos arquitetônicos, conservando os desenvolvimentos sucessivos ou, pode-se adotar um enfoque pragmático com uma adaptação moderna que leve em conta a construção original.

Os efeitos decorrentes da degradação urbana ligados às friches - efeitos visuais, espaciais, econômicos, sociais, culturais, contribuem negativamente para a paisagem urbana.

Concluímos que, a revitalização destas áreas pode tanto remediar uma seriede carências urbanas, quanto contribuir para a preservação das identidades locais, ao mesmo tempo que se modifica o tecido urbano.

 
 
Antiga Usina de Cana de Açúcar - Gov. Valadares - MG


Antiga Fábrica de soda cáustica - São Gonçalo - RJ


Antiga Fábrica Hoje depósito de papéis - São Gonçalo - RJ
 
 
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Gabriela de Matos.

3 de maio de 2010

teatro completo

abordamos o esquecimento
tiramos o mofo dos abandonos pra ressuscitar aqui 
o que pra nós, muito mais do que história:
legado, todos os alicerces para a construção.


hilda hilst me foi apresentada por uma grande amiga, companheira de luta e correnteza.
presenteou-me com o mais visceral e profundo da escritura.
hilda hilst, construtora da língua, conhecedora dos mistérios do mundo. intensa. 
v-i-d-a. 


faremos, durante as próximas semanas, uma homenagem viva ao teatro de hilda hilst, porque:
a forma mais democrática e horizontal de se dar um trabalho é abri-lo. 
por isso:
sem tecer sua apresentação ou prepará-los para o texto, deixarei apenas a morada para que se sintam no desejo íntimo de construi-lo ou abortá-lo.
porque:
devemos estar livres para o fracasso,
porque:
a vida é líquida. 


























http://www.hildahilst.com.br/