6 de agosto de 2010

a lógica do mês oito I

HILDA HILST – Filha única nascida no dia 21 de abril de 1930, no interior de São Paulo.


DO DESEJO
I
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado,
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.
II
Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara.
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grande espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.
III
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada a tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
IV
Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Inpudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?
V
Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Este da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.

a lógica do mês oito - apresentação

Neste oitavo mês do ano civil nos calendários juliano e gregoriano, composto de 31 dias,
optei (como quase sempre opto) por um recorte literário que estivesse pautado no cotidiano e, portanto pudesse se infiltrar em nossos dias assim como todas as outras coisas que convivemos. Espero com esta escolha, dar a opção para que junto às atividades que permeam nossa vivência nas cidades, esteja a literatura.

Sugiro a leitura destes quatro escritores que vos apresentarei com o acompanhamento de alimentos de alta preferência pessoal ou não, usando roupas confortáveis ou não, com o auxílio de lentes corretoras ou não, sozinho e sem pressa para findar a leitura.

Tomo a liberdade de avisar que vou me ater a informações básicas sobre estes escritores, dando preferência somente à poesia e ainda, como bem acredito, cedendo o espaço requisitado pelo poema, dando a oportunidade do leitor se deslocar para a busca literária de sempre querer mais e ainda mais.

Dentre estes quatro escritores, se encontram brasileiros homens e mulheres, nascidos entre 1930 e 1952, e que são referência máxima para as grandes transformações literárias no Brasil. Com afinco se dedicaram ao exercício literário, e contribuíram para além das áreas comumente ditas. Dois dos escritores, realmente se envolveram com o teatro, uma ainda com tradução, e outro com a perigosa música.

De alguns destes escritores, foram apresentados aqui no blog do espaço fluxo, alguns poemas. Insisto em re - mostrá-los pela relevância considerável e importância para o cenário da literatura contemporânea brasileira.

Bom apetite a todos.

(marédematos)

1 de agosto de 2010

POR um poema em cada árvore

Hoje escreverei uma breve matéria impulsionada por uma ação muito simples, mas que se demonstra de grande importância, se pensada entre outras coisas, como uma ação que infelizmente se caracteriza como rara. A criação de espaços expositivos não explorados e sobretudo outrora não pensados para as práticas artísticas, é um tema muitíssimo discutido em todos os setores e circuitos culturais contemporâneos. Existe contudo, uma disparidade crescente com relação ao desenvolvimento expositivo de algumas linguagens, se comparadas a outras que ocupam semelhante grau de importância para o panorama da cultura brasileira. Portanto, gostaria de chamar a atenção pra que haja uma concentração maior de ENERGIA para a movimentação do circuito literário. Deixo com vocês, as informações sobre a dita ação, a partir das palavras do idealizador Marcelo Rocha:

1 - Qual o nome do evento e em que consiste esta ação?
UM POEMA EM CADA ÁRVORE. 

2 - Quem são os envolvidos que se encubem em realizá-la?
O projeto é realizado pelo Instituto Psia, um empreendimento cultural idealizado e coordenado por mim.

3 - O que te  impulsiona a querer promover a literatura desta forma?
Proporcionar um relacionamento do poema com o espaço público, no intuito de que todos saiam ganhando: o poeta, as pessoas que freqüentam o lugar, a paisagem e a poesia. Mostrar a cara do poema num espaço que até então não foi mostrada.

4 - O que pretende com esta ação?
O projeto é uma ação comprometida com a construção de alternativas que proporcione à população o acesso gratuito à produção literária independente e proporcione aos poetas um contato com novos públicos. Através de uma intervenção com o espaço público busca-se chamar à atenção pra necessidade de se pensar e promover ações culturais que façam uso de forma criativa e eficaz dos recursos disponíveis. Mostrar que através da colaboração, da troca de idéias e informações e, acima de tudo, através da melhor forma possível de utilização dos recursos disponíveis é possível vencer as dificuldades e construir um trabalho cultural sustentável.

5 - Desenhe o mapa literário de onde acontece a ação:
 PERDI O MAPA NO CAMINHO RSRS

6 - Como funciona o processo seletivo para esta ação?
Os poemas são de poetas que se identificaram com o conceito do projeto e se dispuseram a divulgar suas obras no formato proposto. Por acreditarem que folhas de papel com poemas impressos, penduradas em árvores ao redor da lagoa do bairro Morada do Vale é uma ação que fortalece a literatura e a cultura encaminharam textos de suas autorias ao meu email e são todos agora agentes colaboradores do UM POEMA EM CADA ÁRVORE. Os poetas colaboradores desta primeira edição do projeto são: Dener Prince, Mariana de Matos, Roberto César Ribeiro Chaves, Willian Figueiredo, Felipe A. e eu, Marcelo Rocha.

7 - Há pretensão para dar continuidade a este evento?
Sim. A intenção é que a intervenção poética aconteça sempre na primeira semana de cada mês.




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Para que as pessoas possam se manifestar e procurar saber mais a respeito desta organização e outros eventos culturais, os contatos são:


(marédematos)