18 de abril de 2010

recebi visita em minha casa hoje

Escrever por fragmentos: os fragmentos são então pedras sobre o contorno do círculo: espalho-me à roda: todo o meu pequeno universo em migalhas; no centro, o quê?


Sim. Yoko Ono escreveu sim e fez da palavra o círculo obrigatório em que tudo deveria esbarrar em/ele antes de 
ser processado. Sua cognição se pronunciava. Já eu, 
Eu vi os expontes da minha geração destruídos pela histeria, sentados na sobrenatural escuridão
de seus pomposos apartamentos frente ao mar em Boa Viajy.




Como  estive pensando em você esta noite, Walt Whitman, enquanto caminhava pelas ruas sob as arvores, com dor de cabeça, autoconsciente, olhando a lua cheia.

No meu cansaço faminto, fazendo o Shopping das imagens, entrei no supermercado  das frutas de néon       sonhando com tuas enumerações 





sim, Caio. Aparentemente tudo é duro e fere. Mas só quero deixar claro que também sou sobrevivente.
Me afoguei em volta dos livros por não os ter podido comer, e sobrevivi. Por que? Contei como Yoko
em Peça Numeral I me pediu. Contei todas as palavras de todos os livros em vez de lê-las.


III

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.





IV

Se eu disser que vi um pássaro
, deverias crer?



E cri, porque me conduzi para exercer uma longa jornada 
Eu, com meus pés em pura carne, a te levar inúmeros pássaros.


VI

O que é a carne? O que é esse Isso
Que recobre o osso



:


Vós que não estais na carne, que sabeis em que ponto de sua trajetória carnal, de seu vai e vem insensato, a alma encontra o verbo absoluto, a palavra nova, a terra interior. Vós que sabeis como alguém dá voltas no pensamento e como o espirito pode salvar-se de si mesmo. Vós que sois interiores de vós mesmos, que já não tendes um espirito ao nível da carne: aqui há mãos que não se limitam a tomar, cérebros que vêem alem de um bosque de tetos, de um florescer de fachadas, de um povo de rodas, de uma atividade de fogo e de mármores. Ainda que avance esse povo do ferro, ainda que avancem as palavras escritas com a velocidade da luz, ainda que avancem os sexos um até o outro com a violência de um canhonaço, o que haverá mudado nas rotas da alma, o que nos espasmos do coração, na insatisfação do espirito?






Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.

E então eu vos pergunto: Por que? E ele me responde.

O coração, se pudesse pensar, pararia.

Um comentário:

paula disse...

linda postagem)))