24 de agosto de 2010

Fragmentos sobre a linguagem:


Porque a linguagem é uma unidade:
Desde o começo dos tempos, o Homem expressou e fixou seus pensamentos recorrendo a signos, logo, estes foram ao mesmo tempo uma escritura, um desenho e uma pintura (...) Eram signos (...) para serem lidos, destinados a representar idéias e resignificá-las. : 
(...)
Aqueles versos chegaram até mim através de sua música. Eu pensava que linguagem fosse um modo de dizer as coisas, de externar queixas, de dizer se estava feliz ou triste etc. Mas quando escutei aqueles versos (e os continuo escutando, em certo sentido, desde então), soube que a linguagem podia também ser música e paixão e assim me foi revelada a poesia.¹
(...)
Esta origem comum às artes e às letras, contadas e percebidas em vários momentos da História, sofrerá aproximações e distanciamentos no seu decorrer e muitas vezes se fundirão para perturbar e combater formas de poder.²

Porque a linguagem (deve) se constrói na singularidade:
(...) o teatro, arte independente e autônoma, para ressuscitar ou simplesmente viver deve acentuar aquilo que o distingue do texto, da palavra pura, da literatura e de todos os meios escritos ou fixos.
(...) esta concepção, que consiste em fazer as personagens sentarem numa certa quantidade de cadeiras ou poltronas enfileiradas e contarem-se mutuamente algumas histórias, (...) é o fato de o teatro ter-se tornado algo essencialmente psicológico, alquimia de sentimentos, e que o máximo da arte em matéria dramática tenha acabado por consistir num certo ideal de silêncio e imobilidade.
(...)
Não está de modo algum provado que a linguagem das palavras é a melhor possível. E parece que em cena, que é antes de mais nada um espaço a ser ocupado e um lugar onde alguma coisa acontece, a linguagem das palavras deve dar lugar à linguagem pelos signos cujo aspecto objetivo é aquilo que de modo mais imediato nos atinge.³

Porque é preciso que defendamos e lutemos pela arte, antes conhecendo-a nos seus desejos profundos e nos esclarecendo de suas peculiaridades:
'Atentem aos signos que somos!'

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¹ BORGES, Jorge Luis. Esse ofício do verso. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
² MARTINS, Giovanna V. Grapefruit: projeções poéticas sobre o mundo. In: Grapefruit: Fusões em campos de significação. UEMG, 2009.
³ ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Max Limonad Ltda, 1984.

Um comentário:

marédematos disse...

bonitíssimo.
!!!