20 de janeiro de 2010

O cinema e a arquitetura_

Se tratando da aproximação entre arquitetura e cinema, imaginemos essa conversa fictícia entre Walter Benjamin e Le Corbusier. Le Corbusier, o arquiteto de um mundo novo, via com entusiasmo a modernidade e suas conseqüências, já Benjamin, com inquietude, refletia sobre a influência da reprodutibilidade técnica na obra de arte.

Os diálogos abaixo foram retirados de dois ensaios dos pensadores: “Esprit de Vérité” de Le Corbusier, de 1933 e “A obra de arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica” de Walter Benjamin de 1935.

Postarei para vocês trecho do que seria esta conversa, no entanto, quem se interessar e quiser lê-la inteira, é só entrar em contato comigo.



Uma Conversa entre amigos

... Benjamin coloca mais uma colher de açúcar em seu café preto e forte, olha para a pequena colher de cabo trabalhado e afirma:

-A câmera intervém com seus inúmeros recursos auxiliares, suas imersões e emersões, suas interrupções e seus isolamentos. O gesto de pegar um isqueiro ou uma colher, nos é extremamente familiar, mas nada sabemos sobre o que se passa verdadeiramente entra a mão e o metal, e muito menos sobre as alterações provocadas nesse gesto pelos nossos vários estados de espírito.

-Espírito da Verdade. Aqui também, aqui essencialmente. Ao cinema: O Espírito da Verdade, diz Le Corbusier, entre um gole e outro de café. Eu já havia exigido esse atributo, urgentemente, para a arquitetura: Durante a preparação da Exposição Internacional de Artes Decorativas, em 1924, eu afirmei que a arte decorativa era, sem ter nenhum direito, penosa e incomoda. Arquitetura é verdade, cinema é o espírito da verdade. Assim, certamente o cinema é arquitetura, nas suas dimensões arquitetônicas, ordenamento e intensidade.

-Mas a arquitetura é percebida distraidamente, existe desde sempre, jamais deixou de existir. Sua historia é mais longa do que qualquer outra Arte. Grande arte de sua recepção é táctil, e não existe nada na recepção táctil que corresponda ao que a contemplação representa na recepção ótica, diz Benjamin.

- É provável que o aparelho que registra nossa visão humana, o nosso olho, seja o mais admirável e perfeito engenho ótico. Mas o que ele vê não é percebido por nada alem do nosso próprio entendimento. É sempre uma visão particular, ele é a medida da totalidade das sensações humanas. Por outro lado, nós somos limitados pela presença simultânea de outras percepções, que entrevêem ao mesmo tempo, encobrindo nossa visão, a esvaziando, a submergindo. O olho das da câmera é impassível, insensível e implacável, sem piedade e sem emotividade.

- Cinema é uma reprodução, diz Benjamin. Mesmo na reprodução mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui eo agora da obra de arte, sua existência única, no lugar em que ela se encontra.

- Mas a arte é uma reprodução da natureza humana. Embora o cinema se situe em seu terreno próprio, ele é uma forma de arte, um gênero, como a pintura,a escultura, o livro, a musica e o teatro são gêneros. Tudo esta aberto a investigação. O cinema é assim um gênero de arquitetura, com realidade própria , verdades próprias de composição, equilíbrio e ritmo. Seu lirismo o coloca no terreno da obra criativa.

-Sim, esta verdade própria destaca, do domínio da tradição, o objeto reproduzido, pranto atrofia a aura” do objeto: E o que é a aura? É uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante. O cinema, quando multiplica a realidade,pela reprodução, substitui a existência única da obra por uma existência serial, diz Benjamin, um pouco impaciente.

- A reprodução é o mundo novo, diz ele. A nova arquitetura é o mundo novo. O cinema é o mundo novo. Por ele nos podemos entrar na verdade da consciência humana. O drama humano nos é aberto.

-A tendência estéril de copiar o mundo exterior, com suas ruas, interiores, estações, restaurantes, automóveis e praças, tem impedido o cinema de incorporar-se ao domínio da arte.

- Benjamin olha par ao amigo e pensa que “A imagem do pintor é total, a do operador é composta de inúmeros fragmentos, que se recompõem segundo novas leis. Assim, a descrição cinematográfica da realidade é para o homem moderno, infinitamente mais significativa que a pictórica, porque ela lhe oferece o que temos o direito de exigir da arte: um aspecto da realidade livre de qualquer manipulação pelos aparelhos, precisamente graças ao procedimento de penetrar, cm os aparelhos, no âmago da realidade”

Sua atenção é desviada para a posta do café, que ao abrir, deixa entrar um vento frio que trás um casal de namorados que, muito molhado, rindo, dirige-se para uma mesa vazia. Le Corbusier, que também olhava pra a cena, volta-se para o amigo, e sorrindo e diz:

- Esta conversa vai longe. Mais um café?






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Gabriela de Matos.

2 comentários:

R.R.Dias disse...

Olá. Gostei disso.

Adoraria ler a conversa inteira.
Como faço?

Saudações,

fluxo disse...

Olá!

Obrigada pelo interesse.
Segue o link para a conversa completa.
http://www.arquiteturarevista.unisinos.br/index.php?e=3&s=9&a=15

Abraços!

Gabriela de Matos.