20 de setembro de 2010

gravura_ I

 a voz da gravura e algumas de suas adjacências para que você se aproxime:

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para definir se o avesso é meu desejo
se ser matriz é apenas meu transporte
se nunca será entregue a mãe o direito de encenar
para entender o que quer a arte com a geometria
de me enquadrar onde o que existe é molde
para saber quando poderei estrapolar a margem
pular a cerca da casa que há séculos me habita
quando o que quero é vida cigana
para desvendar a álgebra
e destituir o poder que me numera messe estado
e não lê meu efeito de indivíduo
para subverter minha língua
para me sorver espírito

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desejo descravar meus pés de uma língua traqueostômica constipada
que outrora quis me prender no papel
de me acidentar como desenho

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gravura é como bethânia
uma leoa faminta
preciosidade para grandes colecionadores

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mangue é uma palavra
que o aurélio não reconhece
não diz respeito à biologia

o mangue é o exílio originário da arte
onde ficam escondidas todas as palavras
que querem dizer manifestação

o mangue causa fala acima de sua vegetação

a gravura está na pata do carangueijo
que encrava fere e não cala

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porque eu sou uma palavra cansada de ser pedra
a cicatriz
a língua
tudo que se faz salto de não prender a verso à arte
tudo que se dá santa a guerra de voar por ela

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In: PEDROSA, Ana. Tratado da Gravura. Trabalho de Conclusão de Curso. Escola Guignard, UEMG. 2009.

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