sem simulacros ou encenações, essa data é precisamente de uma ordem simbólica muito forte.
se o teatro é em si duplo à vida, comemoraremos a vida pela descoberta de decodificá-la como tal arte e, portanto também, a todos nós- não como personagens manipulados por um roteiro, diretor ou fantoche, mas pela atividade de sermos nós mesmos o próprio teatro.
hoje, depois das grandes revoluções culturais do século XX, da subversão da estética, do conhecimento da natureza e essência da arte, é possível estarmos esclarecidos de que, diferentemente do colocado por platão na idade média, o teatro não é mímese- não é diversão nem tampouco alienação que tende a existir para desviar-nos das questões organizacionais e estruturais da sociedade.
pois bem, hoje ainda fazem esse teatro como entendido por platão (desviando o teatro dele mesmo), dando o nome de entretenimento (como parque de diversão, circo e etc).
me pergunto se não podemos nos divertir sem estarmos alienados à vida?
o poder ainda direciona uma linguagem que nasceu para subverter convenções. um atraso, um retrocesso, uma ortodoxia, já que não estamos mais na idade média.
aqui no brasil, materiais sobre a vanguarda teatral são/foram publicados cerca de 40 anos após sua ação na europa. quer dizer, quem tem conhecimento da localização do teatro hoje, depois de transformações, proposições e descobertas, são os acadêmicos e sabemos que a maioria dos profissionais que geram nosso teatro vêm de escolas autônomas.
não quero dizer que os que geram um teatro que circula no brasil não sabem das grandes discussões ou desenvolvimento teatral. mas se sabem, não fazem.
as propostas de alguns grupos de teatro, que exaustivamente tento buscar para mostrar aqui, são propostas de uma riqueza experimental que advém de uma herança encravada radicalmente na estética de que fazem uso. assim, não forjam o conhecimento e as nuances do teatro à sociedade.
obviamente, esses grupos não dispõe de uma logística e de uma mídia que a divulgue, direcione ou os façam circular.
a verba existe para aquilo que se entende como teatro. assim, permanece um processo separatista, calculado e extremamente elitista.
quando o teatro sai às ruas, isso significa muito mais um apropriação da palavra teatro pelo circo do que o verdadeiro patamar existencial do teatro.
a grande preocupação que venho colocar é a celebração do dia mundial do teatro, especificamente no brasil de onde falo, ser um dia qualquer, sem grandes alardes, manifestações.
não se trata de injetar uma falsa importância, de demagogia ou supervalorização.
se trata de entender que a vida só fará sentido sob a verdadeira magia, que o brasil é um país sem gravatas, de conhecimento empírico e enraizado: o verdadeiro teatro acontece- a arte brasileira está nas suas mais genuínas manifestações: o maracatu, o samba. isso proclamado e sistematizado celebra o aniversário merecido ao teatro e também à cultura brasileira.
se trata de entender que o teatro colocado nos anfiteatros continua sendo uma novela da rede globo, fazendo uso de pequenas e sutis simulações e manipulações para forjar a diferença, parecer alta cultura (como se isso fosse realmente importante), um teatro esclarecido e esclarecedor.
sabermos disso é nos devolver a consciência. e, como ensinado por meu grande amigo calixbento, a consciência é o motor para toda ação e transformação.
um povo que não fomenta seu teatro, se não está morto, está moribundo.- garcia lorca
minha intenção era de fazer um apanhado do teatro mambembe e da tragédia grega- o surgimento do teatro- para comemorar esse dia.
mas deixarei sempre a emoção me guiar para dizer o que deve ser dito, por mais que sempre pareça (e talvez seja mesmo) apenas um esboço.
axé à todos!
(ana pedrosa
Um comentário:
Antiguidade garota esperta! Parabéns pelo texto, ficou espetacular!
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