"A BREVE HISTÓRIA DO THE DRAGS" é uma minissérie literária pra web em 10 capítulos que conta as aventuras e desventuras de Adriano, um jovem de 17 anos, e sua passagem por uma banda punk no estralar de sua adolescência. É uma história que muitos jovens brasileiros vivem, e que há pouco vem começando a ser contada pelos escritores e cordeis elétricos Brasil afora. Cordas, palhetas, amplis, festivais, zines, tretas, rolos, meninas e o eterno zumbido da metrópole!
________________________________________________________________Adriano chega com seu baixo Gianinni velho e desregulado do pai a tiracolo, para o ensaio no quintal da casa de Enrico (o baterista gay). O ensaio foi marcado para as 15h30, depois da aula da física. Adriano chega às 15h27 e Enrico está montando as parafernálias baterísticas, vestindo tênis Adidas sem meia e um shorts roxo, com listras e picotinhos do lado.
Adriano tirou do bag do baixo uma MAD de 1986 do pai, e começou a ler. 20 minutos depois, Enrico terminava de afinar as peles num TONC TINC TONC infernal, quando a tia loira quebrou o silêncio, entrando na casa e perguntando a Adriano:
-Cerveja?
Adriano fez que sim com o polegar.
-Você vai ligar a-qui. - Enrico estendeu um cabo P10 a Adriano, conectado a um falante de um Gianinni.
-Doidêra- respondeu Adriano, já puxando o zíper do bag, onde dormia o sunburst Giannini. Pensou na coincidência feliz de estar tocando com equipamento 100% nacional. Adriano era um punk nato. A tia chegou com uma Crystal geladinha.
Enrico jogou sua franja pra trás, sentou na cadeira metálica de bar em frente à bateria Tama prateada, e disse: "manda um som!".
Adriano destacou o anel da latinha, e usando de palheta no baixo, fez:
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2 ------------ --------- --------- --------- --------- --------- -------
3 ------------ --------- --------- --------- --------- 2-2-2-2-2- 2-2-2-
4 4-4-4-4-4-4- 4-4-2-2-2- 2-2-2-2-2- 4-4-4-4-4- 4-4-4---- --------- ----
E Enrico mandou uma linha responsa na batera. Adriano sentiu firmeza.
Fiuzzo, o líder, chegou às 16h42, de carona com o pai, com sua guitarra fodona a tiracolo e seu amplificador Marshall. Os dois praticamente não se emocionaram com sua chegada, ou talvez, nem ouviram direito, com as cabeças abaixadas mandando o mesmo riff há quase meia hora. Fiuzzo tenta se enturmar enquanto arruma as coisas: "e essa sonzera aê!". Enrico faz uma virada meio torta e diz forçando o tom gay:
-Fí! Não te falei que tinha cabeleireiro cinco e meia?-
-Vamo mandar brasa aí, pegou as músicas Dan?- Fiuzzo tergiversou.
-Mais ou menos.. (pausa) não. Tinha uma em ré.
Nos quarenta minutos seguintes, tocaram "Wasted" do Black Flag 12 vezes, a única que Adriano já sabia de cor
E mandaram toscamente duas músicas próprias malacabadas, "Life is a Drag e "Wake Up Every Day". Nas duas, o trio se olhou depois de Fiuzzo ter acabado de berrar a letra no microfone de karaokê que dava choque, e tentou fazer um "acorde final", que não rolou. A banda dava seus primeiros passos com formação completa, após 6 meses de Fiuzzo e Enrico tocando sozinhos.
Adriano se fudia pra tentar entrar no ritmo, Fiuzzo perdia a paciência nas músicas próprias (que ele tinha escrito) e acabava pedindo pro Adriano tocar a mesma nota o tempo todo, pra não sair do compasso. Fiuzzo é do tipo meio crânio que não tem paciência com os outros e xinga. Enrico é o unico q dá um baile em Fiuzzo, ambos são amigos desde pequenos e Enrico já deu em cima de Fiuzzo quando eram mais novos. Adriano sofre, ouve quieto, mas ao fim do ensaio sai com uma boa sensação, o vento batendo no rosto e a avenida ao seu alcance. Oito quadras com o baixo na lomba e a sensação de fazer algo realmente diferente pela primeira vez na vida. Pensa em olhos de menina. Euforia.
(continua... .)
Quantas bandas você acha que existem hoje no Brasil?
Fábio Cardelli
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@fabiocardelli é convidado do Espaço Fluxo para escrever sobre música e cultura alternativa. Nascido em 1984, taurino com ascendente em câncer, tem seis cactos e cinco religiões. Entre elas, toca numa banda.
Um comentário:
quero o capítulo 6!!!! estamos ansiosamente no aguardo!
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