24 de janeiro de 2010

Para Ana, Mari, Gabi, João e Paula, com afeto.


Minha filha me pediu que escrevesse algo para contribuir com o FLUXO, Espaço que ela, Mari, Gabi, João, Paula e Flavinha estão “batalhando”. Eu disse que escreveria pensando em não decepcioná-la (coisas de mãe!) mas fiquei também pensando no que eu poderia escrever já que nada entendo de arte. Acho que ela me pediu por conta do amor que sente por mim (coisas de filha!) mas também porque, me observando no dia a dia – escrevendo, organizando o quarto, a casa, me vestindo -  ela enxergou algo que denominou como “plástico”. Sempre me diz: “mãe, você é muito plástica”. Não sei bem do que se trata; talvez ela esteja falando da minha verdade que coloco sinceramente em tudo que faço e falo.
Faço parte de uma geração muito forte e árdua. Meus amigos, grande parte cinquentões ou já com sessenta, me apresentaram uma proposta de sociedade mais doce de se viver mas que seria preciso muita luta por ela. E como lutamos! Árduo caminho! Tão árduo que às vezes a poesia parecia não ter lugar. Cuidado com tudo que, supostamente, pudesse nos “desviar”; período de muita aspereza, sem tempo para Cecília e Clarice. E eu que achava possível as bailarinas combaterem militares e os desenhos falarem mais que os panfletos.
Os tempos mudaram! Que bom que conseguimos!
Mas como Hegel e Marx me ensinaram a dialética, penso que outra luta vem nos buscar e desta vez ela vem cercada de sutilezas, dizendo novamente, mas de um outro lugar, que a poesia, o desenho, a pintura, a boa música, o teatro, não têm lugar “porque o povo não vai entender”.
Querem manter tudo como d'antes usando outros poderes.
Aprecio muito as iniciativas nas escolas, nas organizações da sociedade, levando a cultura por aí. Aprecio muito! Mas ela não pode ser disciplinada nem disciplinadora (poderia um salto de capoeira ou uma Folia de Reis serem assim?) Ela precisa ser Maior e Verdadeira,  nestes tempos de desordem ordenada, de domínios sutis.
Minha filha me apresentou Frida Kahlo!

Luciana Pedrosa

luciana pedrosa é assistente social, especializada em saúde mental. desde o início dos anos 80 trabalha apaixonadamente pela saúde, educação e assistência social brasileira.
militante em outros tempos e ativista em todos eles, constrói diariamente coisas, reconstrói lugares e perpetua vida.
recentemente investe na escritura do seu jardim e na re-significação de estáveis sociais do bairro onde mora e também por onde passa sua vida cigana. 
inegavelmente aquariana, plantou inúmeras árvores, tem duas filhas e há 48 anos vêm suspendendo seu grandioso, memorável e belo livro.    
luciana é convidada pelo FLUXO para falar da arte como agente social.

3 comentários:

paula disse...

maravilhoso, luciana.
agora sim entendi porque aninha chorava tanto após falar contigo.
beijo grande com afeto
é claro)

gabriela de matos. disse...

lindo, luciana!
é um prazer te-la aqui no blog eee nas nossas vidas! hehe
um beijo grande!

da gabi.

Virginia Lotus disse...

Nossa... que texto sensível e lindo... que pessoa! sem palavras, puro afeto..