4 de junho de 2010

poesia para de manhã cedinho

é porque renascer é denovo nascer que hoje trago ao convívio do olho =com o tempo tomado para mim (porque renascer não tem hora marcada)= o homem que se transfigura/ ele que se reinventa/ que acredita
na arte/ no processo pautado pela experiência/ no imediatismo para narrar a cena/ e por fim, pelo momento
em que todos estamos: joão cabral de melo neto.

No engenho poço não nasci:
minha mãe, na véspera de mim,
veio de lá para a Jaqueira,
que era onde, queiram ou não queiram,
os netos tinham de nascer,
no quarto-avós, frente à maré.
Ou porque chegássemos tarde
(não porque quisesse apressar-me,
e se soubesse o que teria
de tédio à frente, abortaria)
ou porque o doutor deu-me quandos,
minha mãe no quarto-dos-santos,
misto de santuário  e capela,
lá dormiria, até que para ela,
fizessem cedo no outro dia
o quarto onde os netos nasciam.
Porém em pleno céu de gessos,
naquela madrugada mesmo,
nascemos eu e minha morte,
contra o ritual daquela corte
que nada de uma homem sabia:
que ao nascer esperneia, grita.
Parido no quarto-dos-santos,
sem querer, nasci blasfemando,
pois são balsfêmias sangue e grito
em meio à feririce de lírios,
mesmo se explodem (gritos, sangue),
de chácaras entre marés, mangues.

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