11 de junho de 2010

e a crítica que não toque na poesia)))

Observando a necessidade de retomar o delato após o delito/ de guardar a revolução para a madrugada bem quando o estereótipo do dia for dormir/ observando a necessidade de evoluir até a impossível comunicação inteligível/de transfigurar a sintaxe/de falar e ver a palavra pousar__ é que hoje eu apresento três poemas de Glauco Mattoso. Pensado por mim como passados por entre este trajeto duríssimo – onde caberia uma citação de Chico Science que evitarei. Mas não esta. Não espere em casa, porque A REVOLUÇÃO não será televisionada.
 
#2 RHAPSODIA [1975]
 
Está escripta em attica prosa
a glosa da grammatica cryptica
por rectas regras syntacticas
com lettras gregas sympathicas
A glosa do cryptogramma
explica a photosynthese anthologica
de chrysanthemos
myosotis
cyclames
amaryllis
polychromicos
polyrhythmicos
polysyllabos
polychlorophyllados
desvenda a physionomia
de synonymos symmetricos
e etymologias philharmonicas
de analyses hyperphantasticas
e diphthongos phosphorescentes
de phonemas philosophicos
e morphemas psychophysicos
de estrophes sapphicas
e systemas orthographicos
mysteriosos
mysticos
mythicos
Myctericas physionomias desvenda
a glosa da grammathica criptica
escrypta em actica prosa
por rettas regras syntaticas
com lectras gregas sympatticas



#3 DE DUVIDA [1976]

o dedo
a forma
o dedo mas a forma
o débil dedo mas a fóssil forma
o sim do débil dedo mas o não da fóssil forma
da forma o não do dedo
do dedo o sim da forma
o sim
o não
o deformado
deforma o centro
o dedo, embora
a fóssil forma morre do lado de fora
e o débil dedo vive do lado de dentro
das Paredes do Crânio

a vida
a grade
a vida mas a grade
a vígil vida mas a grácil grade
o sim da vígil vida mas o não da grácil grade
da grade o não da vida
da vida o sim da grade
o sim
o não
a gravidade
gravita o centro
a vida, embora
a grácil grade morre do lado de fora
e a vígil vida vive do lado de dentro
das Paredes do Crânio

o dedo a vida a forma a grade
a livre prisioneira a presa liberdade
o circunscrito centro
onivolente, embora
a realidade morre do lado de fora
mas a verdade vive do lado de dentro
das Paredes do Crânio


#9 COR LOCAL [TROVA SEMI(PATRI)ÓTICA] [1978]
 
Minha terra tem mais terra
minha fome tem mais cores
minha cor que menos berra
é que sente minhas dores

2 comentários:

João Rafael disse...

este último me tocou a ponto de doer...

marédematos disse...

quanto mais a linguagem se aproxima do que a gente vive, mais forte a literatura nos toca. não é?