2 de março de 2010

A BREVE HISTÓRIA DO THE DRAGS - cap. 3


"A BREVE HISTÓRIA DO THE DRAGS" é uma minissérie literária pra web em 10 capítulos que conta as aventuras e desventuras de Adriano, um jovem de 17 anos, e sua passagem por uma banda punk no estralar de sua adolescência. É uma história que muitos jovens brasileiros vivem, e que há pouco vem começando a ser contada pelos escritores e cordeis elétricos Brasil afora. Cordas, palhetas, amplis, festivais, zines, tretas, rolos, meninas e o eterno zumbido da metrópole!
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A carreira de músico de Adriano estava indo bem rápido: mal tinha conseguido comprar seu primeiro kit de cordas de baixo, e sua banda já tinha show marcado. Fiuzzo (o palmeirense boy que gostava de armas e passava gel no cabelo pra ir pra aula), Adriano (o corintiano que todos tiravam de maloqueiro porque morava na zona Sul) e Enrico (que assumiu sua homossexualidade aos 12 anos) eram o ThE dRaGS. E iam tocar no Festival Anual de Artes do Colégio Vera santa, o colégio mais alternativo do interior daquele Estado.
Pela segunda vez o rock entrava na programação. Ano passado a música foi representada pelos alunos em três bandas de rock, 2 coraizinhos, 1 showzinho de playback a la High School Musical felizmente fracassado na tentativa, 1 concerto de flauta doce (que soava como unhas roídas num quadro-negro) e um moleque de 8 anos que tocava guitarra como um animal, e se apresentou sozinho para orgulho de seu pai metaleiro. As bandas foram Lazy Dinnas, Dingo Atômico e Cirroze. Dessas, só sobrou o Lazy Dinnas, banda de garoutas à la Cansei de Ser Sexy que seria a maior atração do segundo festival.

FÊ era a mina dramática-descolada que tava organizando a parte rock do festival. e nesse ano ia ser muito melhor porque ela tinha construído reputação: era a menina repetente que os meninos adoravam e as meninas odiavam. As meninas ficavam com raiva e também iam pra fazer inveja umas às outras. A Fê era tão descolada que já tinha pulado de pára-quedas, e tomou suspensão uma vez por embebedar um moleque da quinta série (na verdade o meninote se encheu de vodka por conta própria, e a Fê deu um selinho na boca dele pra ver se ele tava mesmo bêbado, na perfeita sintonia com a passagem de dona Beth - a COORDENADORA - pelo corredor, misteriosamente acompanhada do professor de ciências.)

O show é daqui um mês e ele nunca tinha tocado na vida - exceto pelo violão do amigo Fiuzzo - Adriano aprendeu o RÉ e vinha tentando o LÁ haviam quase duas semanas.

Fazer um show seria uma ótima oportunidade, pensava ele. Vendeu uma fita de videogame pra comprar a corda de baixo, e tinha andado numa trip pessoal forte com o punk rock, as fotos do Sid Vicious melecado de mostarda, o poster do Ramones, a relação de amor e ódio com o Hateen. Foi na loja, escolheu o kit de corda mais barato (o de 55 na única loja de música da cidade, que parecia mais uma pet shop) e chegou em casa virtuosamente em seu patins e capacete grafitado-style.

Chegando em casa, abriu sofregamente o pacotinho com as cordas, e lembrou-se de que nunca tinha trocado uma corda na vida. A embalagem de plástico demorou para abrir, então ele forçou e as cordas pulularam em todas as direções como fogos de artifício. E começa uma epopéia para conseguir botar as cordas que terminaria às 21h com sua mãe gritando "a comida tá gelada" pela 5a. vez. Adriano deu um nó na ponta de cada corda e no final, acabou estourando a corda sol por apertar demais, e fez um remendo que deixou a corda com barulho de sino (bleng bleng).
E terminou a façanha, em que ouviu a discografia do Dead Kennedys três vezes. Nisso, morrendo de fome, começa a piscar uma janelinha. Era a Giuliana da 8a. C. (continua;;)

Fábio Cardelli
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@fabiocardelli é convidado do Espaço Fluxo para escrever sobre música e cultura alternativa. Nascido em 1984, taurino com ascendente em câncer, tem seis cactos e cinco religiões. Entre elas, toca numa banda.

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