A cenografia pode ser considerada uma manifestação espacial que transita na linha tênue que existe entre a arquitetura e a arte.
Por muitos anos, e ainda hoje, o palco italiano era a estrutura inerente a própria idéia de teatro.
É inegável o conforto acústico e a extrema praticidade e funcionalidade do palco italiano.
Porém, os tempos são outros. O teatro se modificou e o palco italiano não acompanhava mais as exigências do novo teatro.
Para explicar melhor o rumo que a cenografia tomou depois da exaustão do palco italiano,
transcrevo para vocês trecho do artigo Teatro da Vertigem e a Cenografia do Campo Expandido de Cristiano Cezarino Rodrigues.
(...)O lugar teatral é onde se estabelece a relação cena/público, que não se limita somente ao edifício teatro, mas a qualquer lugar onde se possa estabelecer esta relação. “O lugar teatral é composto pelo lugar do espectador e pelo lugar cênico – onde atua o ator e acontece a cena” (3). O conceito de lugar teatral introduz uma associação, em certa medida, orgânica entre a cenografia e a arquitetura teatral tornando-os indissociáveis, uma vez que são manifestações de questões do homem no espaço.
A cenografia é concebida e definida tendo como um dos seus pontos de partida a arquitetura na qual está inserida. Pode-se afirmar, também, que a arquitetura teatral é definida a partir das concepções espaciais próprias da cenografia. Constata-se, então, que a idéia de lugar teatral, por ser mais abrangente, é mais adequada e extremamente útil tanto para o entendimento da produção da cenografia contemporânea, quanto para o estudo da cenografia através dos tempos. Desta forma, amplia-se o horizonte de análise à medida que não se busca apenas o décor do espaço, mas o espaço em si.
A constituição do lugar teatral no trabalho do Vertigem não se baseia em recriar espaços, como no Cinema, mas, sim, em aproveitar os já existentes, mantendo sua carga semântica e, ao mesmo tempo, transformando-os. O espaço é “vestido” com as referências de domínio público no intuito de se revelar as relações entre a peça e o espaço, ampliando, consideravelmente, o lugar onde se estabelece a relação cena/público.
O que norteia o trabalho de expansão do lugar teatral, de configuração de uma cena híbrida é a pesquisa de novas formas de interferência na percepção do espectador, de recepção do público, de concepção de um teatro que seja capaz de dialogar com as novas demandas do mundo contemporâneo.
Ao reduzir a distância entre a cena e o público, o nível de entropia da relação amplia-se, o campo de possibilidades de intervenção expande-se e investir neste processo configura-se como um risco, contudo, calculado. Risco por que trabalha com conceitos próximos aos da Teoria do Caos, onde o aleatório e o imprevisível aparecem, são variáveis presentes, onde a ordem é outra e a previsibilidade da resultante produzida (ou provocada) pela relação entre a cena e o espectador é indeterminada. A relação direta que era estabelecida entre a cena e o público espectador desaparece, a intensidade da relação deriva para o ponto de vista de cada indivíduo.
Uma vez inserido no contexto, no espaço de atuação e encenação, o espectador co-participa da peça, dialoga com o processo com uma intensidade diferenciada, estabelecendo um novo espaço, onde sua consciência é ampliada e sua experimentação aproxima-se dos seus limites. A relação que se estabelece está, consideravelmente, ligada ao despertar do indivíduo e não à sua hipnose.
A cena híbrida que reúne em uma mesma superestrutura simultaneamente o espaço arquitetônico, o espaço cênico e o espaço artístico, superpõe várias camadas de sentido, criando leituras subliminares que ampliam seu próprio sentido, tornando-a mais flexível e livre para o seu vivenciar. Para que isso ocorra é fundamental que a transposição da estrutura tradicional para o espaço não convencional realize-se de forma orgânica e completa.
Leia o artigo na íntegra em: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq092/arq092_03.asp
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Gabriela de Matos.
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Cristiano Cezarino Rodrigues, cenógrafo, arquiteto e designer formado pela Escola de Arquitetura da UFMG, onde atualmente é mestrando. Desenvolve trabalhos na área de cenografia, design de eventos e arquiteturas efêmeras.
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