11 de fevereiro de 2010

Trópico da saudade - Claude Lévi-Strauss e a Amazônia

Documentário refaz viagem de Lévi-Strauss 

Claude Lévi-Strauss [pronuncia-se Clôde Lêvi Strôss] morou só quatro anos no Brasil, entre 1935 e 1939, voltou em 1985 para uma visita de seis dias, mas seu interesse pelo país nunca parou. A opinião é do cineasta e antropólogo Marcelo Fortaleza Flores, que conviveu com o etnólogo entre 2004 e 2008 para fazer "Trópico da Saudade - Claude Lévi-Strauss e a Amazônia", documentário sobre os nambiquaras. 
Flores fez as últimas entrevistas com Lévi-Strauss.

"O interesse dele pela etnologia brasileira nunca cessou. Apesar de não ter podido fazer mais pesquisas de campo, ele continuou com grande interesse sobre o trabalho de antropólogos brasileiros", disse Flores, que vive em Paris.. Entre outros autores que Lévi-Strauss gostava, ele cita os nomes de Manuela Carneiro da Cunha e de Eduardo Viveiros de Castro.
A leitura dos textos mais recentes da antropologia brasileira não eram os únicos sinais de que Lévi-Strauss continuava a pensar o que escrevera a partir do Brasil, segundo o cineasta.
Ele dá outro exemplo da vitalidade do etnólogo: "Aos 98 anos, ele publicou uma resposta a um antropólogo americano que desaprovava algumas ideias dele", disse.

A expedição

Flores foi um locutor diferenciado na relação com Lévi-Strauss por causa de seus interesses: ele estudou e viveu cinco anos e meio com os nambiquaras, o grupo que o francês visitou em 1938, no norte do Mato Grosso.
Para fazer o documentário, ele refez a expedição de 1938. Saiu dela convencido que aquela viagem representa uma mudança de porte, uma guinada na antropologia moderna.
Segundo Flores, Lévi-Strauss viajou até o remoto sertão do Mato Grosso em 1938 por um motivo que mescla literatura e o nascimento da etnologia francesa: ele queria encontrar os remanescentes dos tupis que os franceses haviam visto no Rio de Janeiro quando invadiram a cidade no século 16. Lévi-Strauss queria saber o que ocorrera com os índios que o pastor calvinista e escritor Jean de Léry (1534-1611) conheceram no Rio quando os franceses estabeleceram a França Antártica na baía de Guanabara entre 1555 e 1557.
As observações feitas por Léry sobre os índios disseminaram-se pela Europa, em boa parte por causa de Montaigne (1533-1592), e foram fundamentais para a criação do mito do bom selvagem, uma idéia que seria disseminada pela Revolução Francesa (1789).
Flores concorda em parte que havia algo de pós-moderno na expedição de Lévi-Strauss, já que sua inspiração era uma obra literária.
"Era uma expedição que tinha uma relação clara com os primórdios da etnologia no Brasil, com os franceses que estiveram aqui no século 16. Mas ela tentava desvendar um mundo novo. Como expedição, era um híbrido entre duas épocas."
Ao refazer a expedição, com fotos que Lévi-Strauss fizera em 1938, o diretor reencontrou no sul de Rondônia o grupo tupi que o etnólogo francês chamara equivocadamente de mundéu (mundéu era só um ramo linguístico, segundo Flores, e os índios eram akunsuns). Pelas fotos, Flores contou 40 traços em comum entre os akunsuns e os índios que Lévi-Strauss chamara de mundéus.
A boa notícia do reencontro do grupo que Lévi-Strauss estudara em 1938 veio junto com uma péssima notícia: só restavam seis índios akunsuns, e os dois homens ainda carregam as cicatrizes dos tiros que levaram em 1985, quando parte do grupo foi massacrada.


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