18 de junho de 2010

tudo que eu nunca o disse dentro dessas margens,

hoje o jogo é dizer sem usar a palavra por mim escrita e escrever como que dito o que nascera letra e se tornou ruído_sem previsão) : desvenda.


1

POETAS DE AMANHÃ

Poetas de amanhã: arautos, músicos,
cantores de amanhã !
Não é dia de eu me justificar
E dizer ao que vim;
Mas vocês, de uma nova geração,
Atlética, telúrica, nativa,
Maior que qualquer outra conhecida antes
- levantem-se: pois têm de me justificar !
Eu mesmo faço apenas escrever
Uma ou duas palavras
Indicando o futuro;
Faço tocar a roda para frente
Apenas um momento
E volto para a sombra
Correndo
Eu sou um homem que, vagando
A esmo, sem de todo parar,
Casualmente passa a vista por vocês
E logo desvia o rosto,
Deixando assim por conta de vocês
Conceituá-lo e aprová-lo,
A esperar de vocês
As coisas mais importantes.



2

A Pact
, 1913.
tradução: Paulo Leminski

Um trato com você Walt Whitman,
já te detestei o bastante.
Hoje, cresci.
Já posso chegar na tua frente.
Idade eu tenho para tanto.
Você cortou a madeira nova,
está na hora de esculpir,
Tua seiva é a minha, tua raiz.


3

UM SUPERMERCADO NA CALIFÓRNIA
 
, in uivo, 
Tradução: Cláudio Willer
 
Como estivesse pensando em você esta noite Walt Whitman,
enquanto caminhava pelas ruas sob as árvores,
com dor de cabeça,
auto consciente, olhando a lua cheia.
No meu cansaço faminto, fazendo o Shopping das imagens,
entrei no supermercado das frutas de néon
sonhando com tuas enumerações !
Que pêssegos e que penumbras ! Famílias inteiras fazendo suas compras a noite
Corredores cheios de maridos! Esposas entre os abacates, bebês nos tomates ! - e você, Garcia Lorpa,
o que fazia no meio das melancias ?
Eu vi Walt Whitman, sem filhos, velho vagabundo solitário,
remexendo nas carnes do refrigerador e
lançando olhares para os garotos da mercearia.
Ouvi-o fazer perguntas a cada um, deles. Quem matou as costeletas de porco ? Qual o preço das bananas?
Será você meu anjo ?
Caminhei entre as brilhantes pilhas de latarias, seguindo-o
e sendo seguido na minha imaginação pelo detetive da loja.
Perambulamos juntos pelos amplos corredores com nosso passo solitário,
provando alcachofras, pegando cada um dos petiscos gelados
e nunca passando pelo caixa.
Aonde vamos, Walt Whitman ? As portas fecharão em uma hora.
Para as quais caminhos aponta tua barba esta noite ?
( toco teu livro e sonho com nossa odisséia no supermercado e sinto-me absurdo. )
Caminharemos a  noite toda por solitárias ruas / As árvores somam sombras às sombras, luzes apagam-se nas casas,
ficaremos ambos sós.
Vaguearemos sonhando com a América perdida do amor, passando pelos automóveis azuis nas vias expressas,
voltando para nosso silencioso chalé ?
Ah, pai querido, barba grisalha, velho e solitário professor de coragem,
qual América era a sua quando Caronte parou de impelir sua balsa
e Você na margem nevoenta, olhando a barca desaparecer nas regras águas do Letes ? 

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