Queridos leitores amigos,
Faltei com esta coluna na semana passada porque estou passando por um período conturbado na minha vida.
Não, ninguém morreu e eu não estou grávida. O que está acontecendo é que estou concluindo meu curso de Arquitetura e Urbanismo.
Bom, os arquitetos de plantão sabem bem do que se trata o famoso TFG (Trabalho Final de Graduação). Para os que não sabem, no TFG nós devemos escolher um tema que deve ser relevante academicamente. No final de um período de 6 meses de muita pesquisa e muita ralação, espera-se que seja apresentado um produto que seja coerente com os cinco anos que você passou na faculdade. Ou seja, um projeto arquitetônico e/ou urbanístico.
well, well, well.
Os que me conhecem sabem que eu me mudei para Belo Horizonte porque a faculdade em que eu iniciei meu curso em Governador Valadares, MG, não estava correspondendo aos meus anseios arquitetônicos. Para ser mais sincera, eles estavam falhando em TUDO.
Vim para PUC Minas, gostei de muita coisa, não gostei de algumas outras. E segui em diante.
Sempre fui muito crítica, quem me conhece sabe. E por criticar ementa de matérias, professores, o ensino de arquitetura e a produção de arquitetura no Brasil, quase cheguei a fazer o meu TFG sobre Crítica e Ensino de Arquitetura no Brasil - não posso dar muitos detalhes porque é um projeto que eu ainda quero desenvolver.
Bom, em conversa com um professor e outro, acabei desistindo desde tema por agora porque a pesquisa demandaria tempo demais. E o tempo do TFG era muito curto - 6 meses.
Foi aí que eu me deparei com uma situação que não era a que eu queria.
Quando me mudei de Valadares, eu também desisti de Valadares.(ponto) Não era para mim. Odiei a cidade por um longo período de tempo. Pelo seus governantes, por não oferecer espaço para arte, por não promover cultura em nenhuma instancia e etc.
Só depois desses 5 anos de curso de arquitetura e urbanismo, é que eu desenvolvi uma maturidade, ou seria uma militância? - para identificar os elementos que fazem da cidade o que ela é. E só quando entendemos a cidade por inteiro, é que podemos propor soluções. E aí que meu TFG entra.
O meu objeto de estudo é uma antiga Usina de Cana-de-açúcar desativada em Governador Valadares,MG. Estou propondo uma intervenção neste patrimônio histórico.
Sempre admirei o local pelas experiências que já vivi lá - durante muito tempo ela foi palco para grandes eventos da cidade.
Agora sou apaixonada pelo lugar. Desenvolvi uma espécie de entendimento da coisa que agora quando eu no edifício, parece que a sua história grita nos meus ouvidos. - isso pode ser sim resultado do stress de looongas horas de pesquisa e de muito trabalho, mas eu prefiro pensar que não.
Durante alguns meses corri atrás da Prefeitura da cidade, que infelizmente não pode me ajudar muito. O jeito foi correr atrás da história contada, essa que é passada de boca-a-boca pelos antigos moradores da cidade.
Sem mais delongas, desenvolvi uma pesquisa extensa e bastante completa levando em consideração a falta de registros do Edifício. Pretendo resumi-la e enviá-la por email para o maior número de pessoas da cidade que eu puder, e pedir para que repassem em diante.
A minha proposta para o lugar é transformá-lo em um grande Núcleo de Cultura para toda a cidade e região.
Na minha opinião, é o que a cidade precisa desesperadamente agora.
Seus moradores precisam se reconhecer no seu espaço, que é o local onde vivem; a partir deste reconhecimento construir uma identidade, e só assim poder produzir uma cultura que seja originalmente deles.
Se for do interesse de alguém, posso posteriormente postar para vocês algumas imagens da minha proposta pro edifício.
Por enquanto o que eu queria dizer era isso.
Estou totalmente envolvida neste projeto e não vejo como fugir disso nesta coluna que eu falo de arquitetura, desta arquitetura real, cotidiana, da vida.
Aos meus amigos, que estão sempre comigo: Obrigada pela paciência de ficarem durante esse 1 ano(pesquisa + projeto) ouvindo minha idealização deste projeto denovo, e denovo, e denovo.
Apesar de todo o trabalho, tem sido um grande prazer!
Das fotos:
- As fotos mais recentes do edifício foram tiradas por mim e as mais antigas me foram disponibilizadas pelo NEHT da Univale e pela Secretaria de Cultura de Governador Valadares.
Na última foto o Grão Duque e Grã Duquesa de Luxemburgo, donos da Açucareira enquanto ainda estava em funcionamento.
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Gaub de Matos.