Mostra realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil, de 2 a 14 de março, apresentará os filmes produzidos entre o fim da Embrafilme e a chamada “retomada do cinema brasileiro”.
- Apresentação de 18 títulos, quase todos em película, produzidos entre 1990 e 1994
- Exibição do raríssimo O Vigilante, último filme de Ozualdo Candeias
- Debate reunindo cineastas, crítico de cinema e o curador Cléber Eduardo
Até o ano de 1990, a Embrafilme foi o principal sustentáculo da produção e distribuição de filmes brasileiros. Numa medida polêmica, o então presidente Fernando Collor de Mello extinguiu a empresa, dentre outras ações que visavam encolher a presença do Estado. Este ato levou ao que ficou conhecido como os “anos negros” do cinema brasileiro, um período em que a produção caiu a níveis assustadores, o público sumiu e a distribuição praticamente cessou. Tudo isso começou a mudar em 1995, com o que se batizou de “retomada do cinema nacional”, com o sucesso dos filmes Carlota Joaquina, de Carla Camurati, e O Quatrilho, de Fábio Barreto. No entanto, entre 1990 e 1994, vários filmes foram produzidos, embora tenham ficado quase invisíveis para a maior parte do público. É sobre esses títulos que se debruça a mostra ÓRFÃOS DA EMBRAFILME, que o Centro Cultural Banco do Brasil apresenta de 02 a 14 de março, com sessões às 15h30, 18h30 e 20h30. A abertura será com Manobra Radical, filme de estreia da diretora Elisa Tolomelli. Ingressos a R$ 4,00 e R$ 2,00.
Com curadoria do crítico de cinema Cléber Eduardo, foram reunidos títulos que, por estarem na fronteira entre dois momentos históricos e entre dois sistemas de produção, ainda carregavam traços dos anos 80, ao mesmo tempo em que tentavam impor diferenças com relação ao período Embrafilme, dando início a uma nova fase do cinema brasileiro. Estão na programação desde títulos premiados em festivais até filmes de raríssima circulação, como é o caso de O Vigilante, do Ozualdo Candeias, último filme do diretor (totalmente sintomático desse período sombrio do cinema brasileiro) e que terá projeção única durante a mostra, na terça-feira, dia 9 de março, na sessão das 20h30.
CINEMA ÓRFÃO
Os 18 filmes da mostra foram realizados no período que muitos chamam de limbo da produção cinematográfica nacional. Não havia apoio para produzir nem para distribuir. Foi uma época que terminou por criar o espírito de renovação da segunda metade dos anos 90 quando, graças a editais e a um novo modo de captação de recursos, o cinema brasileiro começou a viver umboom de novos diretores e profissionais. Foram anos de procura de relevância, com filmes políticos e históricos, e de busca da popularidade, tendo como fonte autores cujas adaptações das obras foram legitimadas por público ou crítica nos anos 70.
De um universo de mais de 50 filmes do período, a curadoria escolheu os mais “representativos”, alguns recebidos por críticos como a possibilidade de redenção desses anos de orfandade (como Alma Corsária, de Carlos Reichenbach, e Perfume de Gardênia, de Guilherme de Almeida Prado), outros premiados em festivais (como Stelinha, de Miguel Faria Jr) e ainda os casos de filmes vinculados a um cinema popular, como Vai Trabalhar Vagabundo II – A Volta, de Hugo Carvana, que procura retornar à comédia carioca de malandro.
A produção destes cinco anos ainda herdava as adaptações de autores em alta no cinema brasileiro dos anos 70, como Plínio Marcos (Barrela, de Marco Antônio Cury) e Nelson Rodrigues (Boca de Ouro, de Walter Avancini), além de uma tentativa de levar às telas João Guimarães Rosa (A Terceira Margem do Rio, de Nelson Pereira dos Santos). Também apresentava investimento, em doses mais discretas em relação ao momento histórico anterior, na nudez de atrizes conhecidas – um dos itens mais populares dos filmes brasileiros dos anos 70 e 80. Há variações do gênero policial (A Maldição do Sanpaku, de José Joffily, e Escorpião Escarlate, de Ivan Cardoso), histórias ambientadas no mundo dos surfistas (Manobra Radical), personagens decadentes ou sem perspectivas (Stelinha, de Miguel Faria Jr), documentários (Radio Auriverde, de Sylvio Back), enfoques com algum nível de política (Alma Corsária) e um humor preocupado com os códigos da representação (Capitalismo Selvagem, de André Klotzel).