sem antecipações/demagogias/com olhos carolínicos/garimpeiro:
m1ras
Sir
isaac newton disse que
todas as cores existem na luz branca do raio de sol e
tornam-se visíveis quando ele se decompõe no espectro
goethe costeletas
classudo tambolirando sobre escrivaninhas
falava sobre oposição entre luz e sombra
cores físicas químicas fisicoquímicas
e fisiológicas
da vinci
e mais uma moçada
discorreram sobre o assunto
todo mundo tem algo a dizer sobre as cores
eu também
na verdade não me interesso pelas cores
simplesmente
eumastigoelas
19 de março de 2010
18 de março de 2010
Júlio Bressane
Diretor, produtor, roteirista, montador e compositor.
Nasceu em 13 de fevereiro de 1946 na cidade do Rio de Janeiro.
Nasceu em 13 de fevereiro de 1946 na cidade do Rio de Janeiro.
Um dos líderes do movimento do Cinema Marginal do Rio de Janeiro, Júlio Eduardo Bressane de Azevedo desenvolveu um estilo próprio de fazer filmes os quais não seguem uma narrativa convencional e têm um movimento de câmera incomparável. Sua obra é notadamente influenciada por Orson Wells e Jean-Luc Godard.
"Cara a Cara" (1967) é bastante marcado pelas preocupações e a estética do Cinema Novo, em especial por "Terra em Transe" (1967, dir. Glauber Rocha). Em 1969, dirige "O Anjo Nasceu" e "Matou a Família e Foi ao Cinema" nos quais a ruptura e a distância com "Cara a Cara" são grandes. A fragmentação narrativa é acentuada e a preocupação com a representação da estória é abandonada. O universo ficcional é elaborado em proximidade com a banalidade da vida dos personagens, não se constituindo a partir da intriga.
Bressane funda em 1970, no Rio de Janeiro, juntamente com Rogério Sganzerla a produtora de vida efêmera Belair, que produziu seis longas-metragens em três meses de existência. Na Belair, Bressane dirigiu "Barão Olavo, o Horrível" (1970), "Família do Barulho" (1970) e "Cuidado, Madame" (1970).
Por causa de perseguições políticas, o cineasta abandona o Brasil em março de 1970 levando os negativos de "Cuidado, Madame" para a Europa, onde termina a montagem e a revelação. Bressane fica exilado três anos em Londres, onde realiza "Amor Louco" (1971), Memórias de um Estrangulador de Loiras" (1971) e "Lágrima Pantera" (de 1971, filmado em Nova Iorque). Passa também um tempo no Marrocos, dirigindo "A Fada do Oriente" (1972). Em 1972, viaja de carro até o extremo oriente, cenas desta viajem podem ser vistas em "O Monstro Caraíbas" (1975).
Tom destoante, busca do novo e repúdio às concessões são traços predeterminantes da obra de Júlio Bressane de 1975 a 1980. Aqui, o que surpreende e garante lugar de destaque para o cineasta é a regularidade da produção, combinada com a deliberada postura de permanecer de costas para platéias maiores. Filmagens rápidas, utilização de material filmado em 16 mm e um cinema com tendências artesanais é o que faz este diretor.
Após a fase mais aguda do Cinema Marginal, Bressane filma "O Rei do Baralho" (1974), "O Monstro Caraíbas" (1975), "Agonia" (1977), "O Gigante da América" (1980), "Cinema Inocente" (1980), "Tabu" (1982) e "Brás Cubas" (1985). Estas são obras que mostram um relacionamento com a prática cinematográfica equivalente ao mais livre trabalho poético de outras áreas artísticas, centralizando a inventividade e o questionamento da linguagem. O cinema como moderno jogo de sombras, as aproximações da imagem cinematográfica com a pintura e a poesia, a revelação incessante do processo de filmagem, a dissolução completa da estrutura narrativa clássica permeiam o cinema de Bressane. Em "Tabu" há uma maturidade de um criador que não recuou um milímetro em suas concepções estéticas, mesmo produzido com recursos do Estado. O cineasta volta a retrabalhar a magia do cinema, lançando mão de velhos recursos - como cortes desconcertantes ou a exposição do diretor batendo claquete - mas revela um aprofundamento plástico, obtido com movimentos de câmera.
17 de março de 2010
Alphaville e Alphaville - Carlos M. Teixeira
O condomínio Alphaville São Paulo foi lançado em 1974 nos municípios de Barueri e Santana, a cerca de 30 km da região dos Jardins, em São Paulo, e é hoje uma comunidade de 30.000 habitantes espalhados em 15 residenciais. Em 1997 a receita foi levada para Campinas; em 1998, para Belo Horizonte; e em 2000, para Curitiba. Goiânia, Salvador, e Sintra, em Portugal, também terão um Alphaville em breve. O nome é uma citação não intencional (ou uma contraposição, nas palavras dos empreendedores) do filme homônimo de Jean-Luc Godard, lançado no auge da carreira do diretor (Alphaville, França, 1965). A Alphaville de Godard é uma comunidade dominada por um computador, Alpha-60, que controla todos os acontecimentos e toda liberdade de expressão de seus habitantes. Alphaville só existe à noite. Lá, a palavra bíblia quer dizer dicionário, e neste dicionário palavras como “livre” e “consciência” não existem. No Centro, há um enorme prédio modernista de vidro e concreto que tem corredores super compridos e cheios de portas, e é nele onde está instalado o super computador Alpha-60. Todos os homens usam ternos, não há artistas e todo “comportamento ilógico”, como chorar ou gritar, foi proibido. As mulheres são como gueixas japonesas treinadas para agradar e dizem “obrigado, de nada” sem parar. Tudo na cidade é chato e controlado: a arquitetura, as pessoas, as ruas, o Alpha-60 e o próprio filme.
O plano diretor da dupla ditava regras gerais para as proporções das casas, materiais admissíveis, determinava a posição e o estilo dos elementos arquitetônicos (como pórticos na entrada, janelas altas e estreitas), etc. Depois de alcançar estrondoso sucesso comercial, Seaside tornou-se o ícone do Novo Urbanismo, que semelha o subúrbio americano convencional, porém com usos mistos e densidade mais alta (usos residencial, comercial, etc. misturados em lotes menores e em quadras próximas), além de estar bem isolado dos outros condomínios. Em 1997, foi a vez da Disney Corporation inaugurar um condomínio na Flórida, “Celebration”. Dimensionado para 20 mil habitantes, já contava há pouco com cerca de 500 famílias que moram como em qualquer outro parque de diversões da Disney. Tudo aqui foi cuidadosamente projetado para a satisfação dos visitantes (ou, no caso, moradores), inclusive o script de todos os atores (ou, no caso, moradores). Os profissionais liberais que vão aos poucos se mudando para Celebration não podem sequer alterar os jardins de suas casas e abrem mão da liberdade em nome da promessa de felicidade, de segurança e do mundo encantado da Disneylândia (1).
Segundo seus defensores, condomínios desse tipo estariam promovendo mais interações de vizinhança (ao misturar usos) e diminuindo a histórica dependência do automóvel nos EUA (ao diminuir as viagens casa-trabalho). Outra defesa convincente dos novos urbanistas é o fato de que o aumento de densidade nos subúrbios protege áreas cultivadas e reservas naturais da ameaça que tem sido o modelo suburbano americano, de densidade mais baixa e sempre só com uso residencial. Por outro lado, o Novo Urbanismo está associado ao aumento significativo do número de condomínios fechados e policiados, ao conservadorismo estilístico, ao analfabetismo político e uma imagem geral de intolerância, além de se dirigir apenas à classe média branca norte-americana, deixando de fora os sempre excluídos naquele país (negros, imigrantes, etc).
Todos estes prós e contras são verdade. Mas a mais interessante análise sobre Seaside já foi feita pelo cinema, restando pouco a complementar. Seaside e Alphavilles são condomínios modelos desnudados pelo show de Truman, o show que mostra o futuro e o presente das classes afluentes. O cinema monta cenários que nos remetem à realidade, mas em Seaside a realidade de um condomínio é que virou o cenário de um filme. E não só no condomínio real esses conceitos se confundem. Como notou o crítico Luis Fernández-Galiano, o próprio nome da personagem denuncia a mistura confusa entre realidade e ficção: o “homem de verdade” – Truman ou true man – tem o cínico sobrenome de Burbank, no Vale de São Fernando, onde estão os maiores estúdios de cinema e televisão de Los Angeles: The Burbank Studios, da Warner Bros. e Columbia Pictures; o Universal Studios, cuja visita é uma das principais atrações de Los Angeles; e os Studios Disney. Só a ficção nos traz a realidade, só os muros nos trazem a liberdade, só as câmaras nos trazem a privacidade. Como nas ficções onde fantasia e pesadelo se confundem, como no prazer de ser controlado ao invés de participar de decisões, como num mundo surreal de prisioneiros voluntários que preferem não enxergar a porta de saída. A Seaside de Truman e os Alphavilles são cenários frágeis que foram erguidos sobre a dureza da realidade. São os condomínios da Barra da Tijuca, é uma propaganda de duas páginas no caderno de anúncios, é o reduto dos auto-exilados que nunca se sentem exilados o bastante.
“Os ingleses construíram, os americanos projetaram, e você vai comprar”, dizia o folheto promocional de Alphaville Lagoa dos Ingleses, em Belo Horizonte, projetado pelo escritório californiano SWA Group. Talvez essa admiração tão caipira pelos modelos americanos e essa apatia geral sejam o pesadelo que Godard filmaria se Alphaville, o filme, fosse refeito hoje. Em 1965 – tempos bem menos frouxos e mais revoltos que este nosso – o alvo preferido dos críticos de arquitetura eram os edifícios de escritório monótonos que negavam qualquer herança histórica. Hoje, aquela paisagem de prédios inexpressivos do filme Alphaville está sendo substituída por outro pavor: o historicismo banal dos condomínios de arquitetura americanizada e que são regidos por Alphas-60 e Cristofs cada vez mais invisíveis.
Quando lançado, Alphaville Lagoa dos Ingleses foi um sucesso comercial estrondoso: todos os 1.500 lotes vendidos em dois dias. Mas não deixa de ser irônico que até o momento quase não se vê casas em construção em seus lotes residenciais. Nessa oferta fictícia de uma nova forma de viver, Alphaville está para as cidades assim como a imagem de uma bola de chumbo atada na perna de um prisioneiro: para fugir, ele precisa se livrar do peso da bola, mas tudo que consegue fazer é retirar finas camadas de chumbo com um prego enferrujado.
Nota
1
Sobre condomínios americanos contemporâneos, ver também os seguintes textos publicados no portal Vitruvius, ambos de Fernando Lara:
LARA, Fernando. "Vizinhos do Pateta". Arquitextos n° 11.02. São Paulo, Portal Vitruvius, abril 2001 http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq011/arq011_02.asp.
LARA, Fernando. "Admirável Urbanismo Novo". Arquitextos, Texto Especial n° 56, São Paulo, Portal Vitruvius, fevereiro 2001 http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp056.asp.
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Carlos M Teixeira é arquiteto em Belo Horizonte e autor do livro "Em obras: história do vazio em Belo Horizonte"
---
Gabriela de Matos.
Lemmy Caution em ação. Alphaville, Jean-Luc Godard
Há poucos anos um filme menos pretensioso mas carregado de metáforas foi lançado pela Paramount Pictures, “O show de Truman, o show da vida” (The Truman Show, EUA, 1998). Truman Burbank vive uma existência tranqüila e ideal. Ele é casado, tem um bom emprego numa seguradora, um carro e uma casa em estilo vitoriano. O que ele não sabe é que sua vida é um interminável filme transmitido 24 horas por dia e 365 dias por ano, sempre orquestrado por um Big Brother de nome Cristof em um ambiente totalmente simulado para um programa de televisão. No rádio do carro de Truman há uma câmara; no retrovisor, outra; no espelho de seu banheiro, mais uma; e assim por diante. Toda a privacidade de Truman é vendida para uma rede de TV produzir um programa que fatura, segundo o roteiro do filme, mais que o PIB de países pequenos. Sátira do poder da mídia e da vida nos subúrbios dos Estados Unidos, O Show de Truman se passa na imaginária cidade de Seaheaven, cheia de alegres casas de madeira, jardins parecidos e bem cuidados e onde também estão 5.000 câmaras de vídeo camufladas voltadas para Truman. Todos os habitantes na verdade são atores. As ruas são estreitas e fazem curvas suaves, as árvores não são nem muito grandes nem muito pequenas, as cores das fachadas apresentam educados tons pastéis, e tudo parece estar na mais harmoniosa felicidade americana. As coisas são perfeitas a ponto de se parecerem com um enorme cenário onde se desenrola a vida de Truman, mas o filme na verdade foi todo rodado no condomínio de férias Seaside, situado na costa da Flórida e projetado em 1982 por um casal de arquitetos de Miami.
O plano diretor da dupla ditava regras gerais para as proporções das casas, materiais admissíveis, determinava a posição e o estilo dos elementos arquitetônicos (como pórticos na entrada, janelas altas e estreitas), etc. Depois de alcançar estrondoso sucesso comercial, Seaside tornou-se o ícone do Novo Urbanismo, que semelha o subúrbio americano convencional, porém com usos mistos e densidade mais alta (usos residencial, comercial, etc. misturados em lotes menores e em quadras próximas), além de estar bem isolado dos outros condomínios. Em 1997, foi a vez da Disney Corporation inaugurar um condomínio na Flórida, “Celebration”. Dimensionado para 20 mil habitantes, já contava há pouco com cerca de 500 famílias que moram como em qualquer outro parque de diversões da Disney. Tudo aqui foi cuidadosamente projetado para a satisfação dos visitantes (ou, no caso, moradores), inclusive o script de todos os atores (ou, no caso, moradores). Os profissionais liberais que vão aos poucos se mudando para Celebration não podem sequer alterar os jardins de suas casas e abrem mão da liberdade em nome da promessa de felicidade, de segurança e do mundo encantado da Disneylândia (1).
Segundo seus defensores, condomínios desse tipo estariam promovendo mais interações de vizinhança (ao misturar usos) e diminuindo a histórica dependência do automóvel nos EUA (ao diminuir as viagens casa-trabalho). Outra defesa convincente dos novos urbanistas é o fato de que o aumento de densidade nos subúrbios protege áreas cultivadas e reservas naturais da ameaça que tem sido o modelo suburbano americano, de densidade mais baixa e sempre só com uso residencial. Por outro lado, o Novo Urbanismo está associado ao aumento significativo do número de condomínios fechados e policiados, ao conservadorismo estilístico, ao analfabetismo político e uma imagem geral de intolerância, além de se dirigir apenas à classe média branca norte-americana, deixando de fora os sempre excluídos naquele país (negros, imigrantes, etc).
Todos estes prós e contras são verdade. Mas a mais interessante análise sobre Seaside já foi feita pelo cinema, restando pouco a complementar. Seaside e Alphavilles são condomínios modelos desnudados pelo show de Truman, o show que mostra o futuro e o presente das classes afluentes. O cinema monta cenários que nos remetem à realidade, mas em Seaside a realidade de um condomínio é que virou o cenário de um filme. E não só no condomínio real esses conceitos se confundem. Como notou o crítico Luis Fernández-Galiano, o próprio nome da personagem denuncia a mistura confusa entre realidade e ficção: o “homem de verdade” – Truman ou true man – tem o cínico sobrenome de Burbank, no Vale de São Fernando, onde estão os maiores estúdios de cinema e televisão de Los Angeles: The Burbank Studios, da Warner Bros. e Columbia Pictures; o Universal Studios, cuja visita é uma das principais atrações de Los Angeles; e os Studios Disney. Só a ficção nos traz a realidade, só os muros nos trazem a liberdade, só as câmaras nos trazem a privacidade. Como nas ficções onde fantasia e pesadelo se confundem, como no prazer de ser controlado ao invés de participar de decisões, como num mundo surreal de prisioneiros voluntários que preferem não enxergar a porta de saída. A Seaside de Truman e os Alphavilles são cenários frágeis que foram erguidos sobre a dureza da realidade. São os condomínios da Barra da Tijuca, é uma propaganda de duas páginas no caderno de anúncios, é o reduto dos auto-exilados que nunca se sentem exilados o bastante.
“Os ingleses construíram, os americanos projetaram, e você vai comprar”, dizia o folheto promocional de Alphaville Lagoa dos Ingleses, em Belo Horizonte, projetado pelo escritório californiano SWA Group. Talvez essa admiração tão caipira pelos modelos americanos e essa apatia geral sejam o pesadelo que Godard filmaria se Alphaville, o filme, fosse refeito hoje. Em 1965 – tempos bem menos frouxos e mais revoltos que este nosso – o alvo preferido dos críticos de arquitetura eram os edifícios de escritório monótonos que negavam qualquer herança histórica. Hoje, aquela paisagem de prédios inexpressivos do filme Alphaville está sendo substituída por outro pavor: o historicismo banal dos condomínios de arquitetura americanizada e que são regidos por Alphas-60 e Cristofs cada vez mais invisíveis.
Quando lançado, Alphaville Lagoa dos Ingleses foi um sucesso comercial estrondoso: todos os 1.500 lotes vendidos em dois dias. Mas não deixa de ser irônico que até o momento quase não se vê casas em construção em seus lotes residenciais. Nessa oferta fictícia de uma nova forma de viver, Alphaville está para as cidades assim como a imagem de uma bola de chumbo atada na perna de um prisioneiro: para fugir, ele precisa se livrar do peso da bola, mas tudo que consegue fazer é retirar finas camadas de chumbo com um prego enferrujado.
Alphaville Lagoa dos Ingleses, Belo Horizonte MG
Alphaville Lagoa dos Ingleses, Belo Horizonte MG
Nota
1
Sobre condomínios americanos contemporâneos, ver também os seguintes textos publicados no portal Vitruvius, ambos de Fernando Lara:
LARA, Fernando. "Vizinhos do Pateta". Arquitextos n° 11.02. São Paulo, Portal Vitruvius, abril 2001 http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq011/arq011_02.asp.
LARA, Fernando. "Admirável Urbanismo Novo". Arquitextos, Texto Especial n° 56, São Paulo, Portal Vitruvius, fevereiro 2001 http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp056.asp.
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Carlos M Teixeira é arquiteto em Belo Horizonte e autor do livro "Em obras: história do vazio em Belo Horizonte"
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Gabriela de Matos.
16 de março de 2010
A BREVE HISTÓRIA DO THE DRAGS - cap. 4
"A BREVE HISTÓRIA DO THE DRAGS" é uma minissérie literária pra web em 10 capítulos que conta as aventuras e desventuras de Adriano, um jovem de 17 anos, e sua passagem por uma banda punk no estralar de sua adolescência. É uma história que muitos jovens brasileiros vivem, e que há pouco vem começando a ser contada pelos escritores e cordeis elétricos Brasil afora. Cordas, palhetas, amplis, festivais, zines, tretas, rolos, meninas e o eterno zumbido da metrópole!
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A janela do MSN pulsava irritantemente. Giuliana estava chamando a atenção.
"oy driiiiiiii eh a giu ^^"
Adriano odiava esse apelido carinhoso que as meninas deram. Os meninos, lógico, tiravam uma onda com ele pq "Dri" andava com Bernie e Enrico, o casal gay da classe. Enrico era o baterista do The Drags. Mas Adriano fazia questão de dizer que era hétero. E tinha uma paixão secreta. Mas não por Giuliana.
"flaaa giu td bom?"
"intaum to screvenu um zine pra feira keria t intrevista"
"pq?"
"vc tok na drags num tok"
"tocoo"
"intaum quais saum as influencias da banda??????"
Adriano colocou o MSN no modo "Ocupado" e ligou pro Fiuzzo instantaneamente.
-A-lô.
-Fiuzzo?????? A Giu tá me entrevistando ela quer saber quais são as influências da banda, quais são as nossas influências Fiuzzo?
-Cara. seilá Garotos Podres.
-Valeu cara. Falô - e desligou.
"opa voltei giu"
"^^"
"Garotos Podres"
"ah... soh???? num tem +?"
Adriano liga o modo ausente.
-Oi.
-Fiuzzo ela quer saber mais influências o que que eu falo pra ela?
-cara....
-Cê num quer entrar online, fica mais fácil-
-Cara, to sem net aqui. O que ela quer saber?
-É uma entrevista pra um zine, parece que é pra feira.
-Ah, fala pra ela o que você curte.
-E da banda?
-Tô ocupado aqui tá passando Zé do Caixão no Canal Brasil resolve aê cara, amanhã cê ma dá um toque.
-Tá. Vou...
(fim da chamada)
"oi giu. dead kennedys, garotos podres, green day, zé do caixão panic at the disco, black flag, calibre 12, cólera, social chaos, sex pistols inocentes, replicantes... supla, okotô, wasted nation, the bastards ludovic, are you god,"
"ta. tipo kual eh a moda de vcss?"
"ah eh tipo punk"
"tipo emo?"
"não, tipo punk punk msm. punk rocke"
"ahn tan.... vcs tem myspace?"
"ainda ñ"
"ta... brigadiuuuuuu dri bjuuuu"
"bj t+"
E assim foi a primeira entrevista de Adriano, concedida em plenos 17 anos numa janela de bate-papo na internet. "Dri" tocou notas aleatórias no baixo até 3 da manhã no sofá da sala, e acordou às 7 com a buzina da van. Ele ainda usava a roupa da escola; pegou sua mochila num canto da sala, tirou uma banana do cacho e foi para a aula. (continua..)
Fábio Cardelli
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@fabiocardelli é convidado do Espaço Fluxo para escrever sobre música e cultura alternativa. Nascido em 1984, taurino com ascendente em câncer, tem seis cactos e cinco religiões. Entre elas, toca numa banda.
15 de março de 2010
espaço artaud
em 2007 trabalhei num projeto chamado casa freud, aqui em bh.
conheci sobre a casa freud ainda quando criança, durante as longas conversas que sempre tive com minha mãe.
minha mãe, assistente social, que havia fundado a ASSTRAL- um projeto auto-sutentável que trabalhava com oficinas de arte e artesanato para os ditos "transtornados".
não quero discutir aqui o tanto que os transtornos mentais advém realmente do indívíduo ou o tanto que a sociedade adoenta o ser, nem mesmo devo falar sobre a verdade que rege a discussão das psicoses, do que é loucura ou de como a sociedade lida com aqueles que não tem escolha em viver a existência e seus transtornos até a raiz.
essa é uma discussão que não tenho propriedade para colocar, embora me preocupe absurdamente e realmente tenho minhas posições a respeito.
também não quero entrar no mérito do questionamento da natureza de oficinas, do que é arte, artesanato, do embate entre a arte-terapia e a subversão dela.
sei que projetos como a ASSTRAL funcionam. isso quer dizer TRANSFORMAM. e transformam vidas, estruturas familiares, seres humanos e sua colocação social, sua auto-estima e poder de ação, produção e criação do sujeito.
na casa freud, fundada pelo analista e artista plástico musso greco, trabalhávamos com oficinas de pintura, literatura, cerâmica (das que me lembro).
o espaço onde essas verdadeiras criações se convergiam, era chamado Espaço Artaud ( homenagem a antonin artaud, dramaturgo apresentado à vocês aqui no nosso blog).
essa experiência foi essencial pra mim- me transformou como pessoa, como profissional e como artista.
grandiosíssima vivência. aprendi coisas naquele lugar, com aquelas pessoas, com os trabalhos magníficos delas que não há palavra alguma que consiga transpor (sentimentos grandes e experiências quase espirituais dessas não podem e talvez nem devam serem descritas).
no final do ano de 2007, a Casa Freud foi fechada. a dor do espaço, da vida como era tida ali, da filosofia daquele lugar, da forma de conviver, dos sonhos que aquela casa portava foram simbologicamente sofridos. mas a construção que tamanho projeto deixou, a marca, o legado não é possível ser derrubado.
hoje, me decidindo aqui sobre o momento exato de falar das coisas e, assim, me decidindo sobre o que falaria pra vocês nesse post, recebi um e-mail do meu grande amigo- cujo apelido imediatamente é possível reconhecer sua grandiosidade. gandhi, meu amigo dessa longa estrada, me enviou o blog de um projeto que acontece no rio de janeiro e agora em são joão del rey.
o projeto chama-se Espaço Artaud Companhia de Teatro e ainda precisarei de longas conversas para dizer a vocês mais um pouco dessas história.
o fato é que existe um grupo chamado Os nômades, formado dentro desse Espaço Artaud, que trabalha com peças escritas a partir de temas improvisados em seus encontros semanais.
não tenho a real visão de como sejam essas peças nem do valor estético delas- isso tampouco me interessa agora. me interessa é como elas nascem e a partir do que.
o trabalho desse grupo está nesse endereço: www.espacoartaudciadeteatro.blogspot.com/ . estão em momento de suspensão, mas creio eu que ainda falaremos muito deles no FLUXO.
deixo a vocês a necessidade de se construir arte que possa subtrair as dores e perdas colocadas por um sistema (seja qual for) falido, que já maltratou gente demais.
é preciso que estejamos preparados para assumir todas as nossas individuais diferenças para construir algo muito maior e total.
axé.
(ana pedrosa
conheci sobre a casa freud ainda quando criança, durante as longas conversas que sempre tive com minha mãe.
minha mãe, assistente social, que havia fundado a ASSTRAL- um projeto auto-sutentável que trabalhava com oficinas de arte e artesanato para os ditos "transtornados".
não quero discutir aqui o tanto que os transtornos mentais advém realmente do indívíduo ou o tanto que a sociedade adoenta o ser, nem mesmo devo falar sobre a verdade que rege a discussão das psicoses, do que é loucura ou de como a sociedade lida com aqueles que não tem escolha em viver a existência e seus transtornos até a raiz.
essa é uma discussão que não tenho propriedade para colocar, embora me preocupe absurdamente e realmente tenho minhas posições a respeito.
também não quero entrar no mérito do questionamento da natureza de oficinas, do que é arte, artesanato, do embate entre a arte-terapia e a subversão dela.
sei que projetos como a ASSTRAL funcionam. isso quer dizer TRANSFORMAM. e transformam vidas, estruturas familiares, seres humanos e sua colocação social, sua auto-estima e poder de ação, produção e criação do sujeito.
na casa freud, fundada pelo analista e artista plástico musso greco, trabalhávamos com oficinas de pintura, literatura, cerâmica (das que me lembro).
o espaço onde essas verdadeiras criações se convergiam, era chamado Espaço Artaud ( homenagem a antonin artaud, dramaturgo apresentado à vocês aqui no nosso blog).
essa experiência foi essencial pra mim- me transformou como pessoa, como profissional e como artista.
grandiosíssima vivência. aprendi coisas naquele lugar, com aquelas pessoas, com os trabalhos magníficos delas que não há palavra alguma que consiga transpor (sentimentos grandes e experiências quase espirituais dessas não podem e talvez nem devam serem descritas).
no final do ano de 2007, a Casa Freud foi fechada. a dor do espaço, da vida como era tida ali, da filosofia daquele lugar, da forma de conviver, dos sonhos que aquela casa portava foram simbologicamente sofridos. mas a construção que tamanho projeto deixou, a marca, o legado não é possível ser derrubado.
hoje, me decidindo aqui sobre o momento exato de falar das coisas e, assim, me decidindo sobre o que falaria pra vocês nesse post, recebi um e-mail do meu grande amigo- cujo apelido imediatamente é possível reconhecer sua grandiosidade. gandhi, meu amigo dessa longa estrada, me enviou o blog de um projeto que acontece no rio de janeiro e agora em são joão del rey.
o projeto chama-se Espaço Artaud Companhia de Teatro e ainda precisarei de longas conversas para dizer a vocês mais um pouco dessas história.
o fato é que existe um grupo chamado Os nômades, formado dentro desse Espaço Artaud, que trabalha com peças escritas a partir de temas improvisados em seus encontros semanais.
não tenho a real visão de como sejam essas peças nem do valor estético delas- isso tampouco me interessa agora. me interessa é como elas nascem e a partir do que.
o trabalho desse grupo está nesse endereço: www.espacoartaudciadeteatro.blogspot.com/ . estão em momento de suspensão, mas creio eu que ainda falaremos muito deles no FLUXO.
deixo a vocês a necessidade de se construir arte que possa subtrair as dores e perdas colocadas por um sistema (seja qual for) falido, que já maltratou gente demais.
é preciso que estejamos preparados para assumir todas as nossas individuais diferenças para construir algo muito maior e total.
axé.
(ana pedrosa
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